Populismo bom e populismo mau

Nada mobiliza tanto a Europa bem pensante como a luta contra o populismo. O maior elogio que Ferro Rodrigues encontrou para Marcelo em Dia da Liberdade foi considerá-lo um pilar contra o populismo. Pelos quatro cantos dos diferentes meios de comunicação, há sempre alguém a bradar contra o populismo. Toda esta saga anti-populismo faria sentido se realmente honesta e baseada numa preocupação genuína. Ou seja, se quem rasga as vestes, o fizer sempre e em face de qualquer tipo de populismo, em particular do mais perigoso e violento.

Nunca poupei nas minhas dúvidas e críticas públicas a Bolsonaro, a Trump, a Orbán, a Salvini ou a Le Pen por gerirem a intervenção política de modo populista e irresponsável. Apoio as justas insurgências quando um destes protagonistas ameaça a Democracia, os Direitos Humanos e o Direito Internacional. Não sinto qualquer afinidade ideológica com quem vive da fractura social e do patrocínio das tensões entre aqueles que se propõe governar.

Nesta linha de raciocínio, o meu repúdio é ainda maior em relação ao populismo radical de esquerda. Disseminado nas maiores democracias, o populismo radical de esquerda tem um grau de eficácia superior ao populismo retrógrado porque disfarçado de modernidade. No final, o resultado é o mesmo: divisão e fractura social, instabilidade, desconfiança, segregação, perseguição e, acima de tudo, o ódio.

A tenacidade da extrema-esquerda, os anos de percurso, a ortodoxia, a implacabilidade e a militância, tornam-na ainda mais perigosa que os neo-populistas. Para tal, contam com o colaboracionismo pouco inocente de agentes culturais, da generalidade dos media, das franjas esquerdas do centrão, de movimentos internacionais de larga escala e alcance e, pasme-se, de uma certa direita tão idiota quanto útil.

Só assim se explica que a preocupação da esmagadora maioria dos opinadores e actores políticos tenha sido com a ascenção do VOX, que ficará na oposição, e não com a ida previsível do obscuro Podemos para o governo de Espanha. É natural que se observe o VOX com atenção, é óbvio que partes da sua mensagem levantam questões e preocupações. Mas ter o populismo radical, sócio dos maiores ditadores da actualidade, instalado de armas e bagagens no governo de um dos maiores países da União Europeia, é significativamente mais preocupante.

Só este facciosismo de análise e identificação permite que se tenha passado tão levemente pela sinistra manife do Bloco com as suas palavras de ordem radicais, intoleráveis em qualquer democracia minimamente saudável. Os apelos ou votos de morte a Bolsonaro repetidos efusivamente pelos terroristas políticos e sociais do Bloco tornam-nos indignos de partilhar normalmente o espaço democrático.

Este ódio permanente, a morte ao inimigo, a justificação prévia e cega de todos os meios para atingir os seus fins, dizem claramente da qualidade moral desta gente e, acima de tudo, da sua perigosidade. Achar que foi apenas uma ideia parva é ignorar a profundidade do mal e do nosso desleixo colectivo a lidar com ele. Entretanto, tivemos de facto a direcção de um dos partidos que sustenta e apoia o Governo de Portugal a gritar morte ao presidente do Brasil, nosso país irmão e aliado estratégico. Do lado dos partidos democráticos, a reacção foi frouxa, equívoca e irresponsável. Um perigo e uma vergonha.

Fieis bons e fieis descartáveis

A útima Páscoa foi marcada de modo traumático pelo derramamento brutal de sangue inocente às mãos diabólicas dos terroristas islâmicos. Os cristãos do Sri Lanka são um traço de resistência, de memória pacífica, diria amorosa, de Portugal e da Igreja de Cristo naquelas paragens longínquas. Vivem integrados e em harmonia com os outros fieis locais de outros credos de paz. O que os diferencia é o profundo amor a Cristo, e é por causa desse amor maior que foram barbaramente assassinados. Como comunidade minoritária, terão retido muita da pureza das primeiras comunidades cristãs, a sua Fé é viva e constante.

O massacre tem autores morais e materiais. Têm nome e motivações bem conhecidos. Os de sempre, os do politicamente correcto, os que choraram, e bem, baba e ranho em Christchurch, ficaram ligeiramente perturbados com a “ocorrência que afectou os adoradores da Páscoa”. Uma coisinha light, que isto da cristofobia e da perseguição aos cristãos, por mais brutal e sangrenta que seja, não é para valorizar.

A agenda, a que interessa promover, porque volta o Ocidente contra si próprio, é a do combate sem tréguas à islamofobia, a qualquer interrogação menos cómoda quanto aos propósitos de paz e respeito de uma legião significativa dos discípulos de Maomé.

As vítimas inocentes do Sri Lanka, os que diariamente sofrem perseguição e opressão por amor a Cristo, mereciam bem mais respeito do mundo que deveria representar os valores de humanismo, fraternidade e dádiva pelos quais estão dispostos a morrer. Mas este mundo está a transformar-se, está longe de si próprio, em direcção ao precipício do relativismo amoral e, por conseguinte, desumano. Restará, a quem sentir a urgência, resistir sem tréguas, por muito que a batalha pareça perdida.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.