«Doze anos de mentira» é um texto de Pedro Santos Guerreiro (PSG) no Expresso sobre Sócrates, Berardo, Constâncio, BCP, e etc. Para PSG, «Alegadamente isto não é um assalto, é uma conspiração; é uma associação criminosa». Vale a pena ler.
Mas lamento que fique pelos doze anos. É pena que não se debruce sobre os antecedentes. A «associação criminosa» tem poucos «sócios»). E é insuficiente a responsabilização de comportamentos («alegadamente» criminosos, ilegais, corruptos) de agentes económicos e políticos.
Ao ler comentários às revelações da Comissão de Inquérito à CGD, em particular depois da audição de Berardo, parece que a história da corrupção, crime e roubo de bens públicos só começou há doze anos. Ora, não é verdade.
É preciso ir ao início da contra-revolução capitalista e latifundista, com as privatizações por governos PS e PSD, com o apoio do CDS/PP. Não foram apenas comportamentos criminosos. Esses comportamentos mergulharam no caldo político e no quadro legislativo e institucional que a contra-revolução, a partir do 25 de Novembro, criou. Oportunisticamente, aproveitaram o que a nova «legalidade» permitiu para negócios e negociatas, na reconstituição do poder económico e políticos dos Grupos Económicos, que tudo submeteram e submergiram à sua voracidade. Ricardo e Berardo, e muitos outros, chegaram onde chegaram porque houve quem lhes abrisse portas e janelas! Sucessivos governos do PS, PSD, CDS, que acrescentaram «impunidades», «absolvições» e indemnizações a esses Grupos.
Só por esquecimento, não se recorda a falência da Caixa Económica Faialense nos anos 80. Ou a Caixa Económica Açoriana (CEA) escolhida (com o Banco de Fomento) pelo PSD/Cavaco Silva para recepcionar o Fundo Social Europeu, a que se sucedeu o nunca esclarecido uso pela PARTEX, sub-holding da Fundação Gulbenkian, de elevadíssimos montantes do FSE, e de tudo o que se seguiu, para acabar numa prescrição por Acórdão do Tribunal Constitucional, em 2000. Custos de muitos milhões de euros aos contribuintes! (1) Ou ainda, na onda da contra-revolução capitalista, e por muitos outros, os casos Totta/Banesto, «nunca totalmente esclarecido», e o negócio Champalimaud/Grupo Santander (2). Ou a «arrogância da ilegalidade» de governos PS e PSD, recusando-se a «cumprir 136 acórdãos do Supremo Tribunal Administrativo favoráveis às UCP/Cooperativas» da Reforma Agrária! E o rosário podia prosseguir. Até às vésperas do 25 de Abril, com o rombo do Banco Intercontinental Português (BIP) de Jorge de Brito, que veio a custar ao Estado, já pós Revolução, 10 milhões de contos à época, segundo Silva Lopes, fora o que depois se acrescentou ao balanço do Pinto & Sotto Mayor. O que não impediu a cobertura e absolvição, por governos da AD e do Bloco Central, negando-se em 1983 ao PCP uma Comissão de Inquérito Parlamentar para aclarar o negócio FINANGESTE/Jorge de Brito!
De facto, a mentira, a conspiração e a associação criminosa não começaram apenas há doze anos.
Mas há diferenças. O Tal & Qual (16OUT98), a propósito do FSE/CEA/PARTEX, transcrevia: «”Lá fora ainda é pior. Nós até nem roubamos muito”, disse Cavaco citando de cor confidências que lhe teriam sido feitas nos corredores de Bruxelas. Silva Peneda, então Ministro do Trabalho, não foi menos infeliz: “Nós, por cá, contentamo-nos com pouco – até nisso somos pequeninos”» (1). Depois dos BPN, BES, Berardo…, parece que já não somos.

(1) Ver «Da Resistência Antifascista à Nacionalização da Banca» de Anselmo Dias;
(2) Ver «A verdade e a Mentira na Revolução de Abril (a contra revolução confessa-se)» de Álvaro Cunhal.