Num inquérito sobre a missão da escola, perguntámos aos pais como classificavam o desempenho do seu(ua) educando(a) relativamente à turma que frequentava. As opções eram de 1 a 5 onde 1 significava muito abaixo da média e 5 muito acima da média.

Quase 3300 pais responderam a esta questão, mas destes apenas 15 (0.5%) consideraram que o desempenho do seu filho(a) estava no nível 1, e apenas 95 (2.9%) consideraram que se encontrava num nível 2. A verdade é que a maioria dos pais 2518 (76%) considerou que o seu filho ou filha apresentava um desempenho de 4 ou 5, e portanto acima da média ou muito acima da média.

Este tipo de respostas não deixa de ser interessante e é muito mais prevalecente na prática (inclusive no mundo das organizações e das respetivas lideranças), do que aquilo que possamos imaginar. Tem um nome e chama-se “Dunning-Kruger effect” e traduz-se no facto de a maior parte dos indivíduos se considerarem acima da média. Isto é, se numa organização perguntarem a um trabalhador se ele considera o seu desempenho acima, na média, ou abaixo da média a resposta predominante será acima da média – o que é uma impossibilidade matemática.

Os investigadores David Dunning e Justin Kruger publicaram em 1999 um estudo onde detetaram pela primeira vez os efeitos da sobrestimação das suas habilidades pelas pessoas que apresentavam pior performance nas tarefas. Também detetaram o efeito oposto, nesse e em vários estudos subsequentes, ou seja, os melhores performers tendiam a subavaliar a sua performance.

As explicações para este fenómeno são variadas e aquilo que explica a sobreavaliação dos piores performers não é necessariamente o mesmo que explica a subavaliação dos melhores performers. Assim, no caso das pessoas com habilidades ou competência limitadas há uma dupla razão para o efeito – as suas competências limitadas fazem-nos errar mais do que os outros e portanto apresentar pior performance (e.g. a responder a um teste ou a fazer determinadas tarefas) e ao mesmo tempo a sua incompetência ou ignorância priva-os da capacidade para perceber as suas próprias limitações.

Como refere Dunning num artigo de 2011 – trata-se de ser ignorante da própria ignorância.  Já no caso dos top performers, o viés de julgamento tem a ver com o facto de atribuírem grande simplicidade à tarefa que executam ou ao conhecimento que adquiriram, e essa facilidade que apresentam faz com que considerem que os outros são melhores do que aquilo que de facto são.

A investigação de Dunning e Kruger pode gerar vários comentários jocosos, mas a verdade é que quando se questionam os indivíduos sobre as suas perceções de performance relativamente aos pares, e as respostas são que 40% das pessoas se consideram no top 5% de desempenho de uma empresa, sabemos que estamos perante o absurdo de uma impossibilidade matemática. Isto implica que a utilização de dados de questionários que fazem alusão a comparação com pares deve ter em conta este enviesamento.

Por outro lado, este efeito pode também justificar a proliferação da incompetência em alguns meios e é um fator potenciador da desinformação e da Post-truth – quando as crenças e opiniões pessoais são mais relevantes na tomada de decisão do que os factos. Neste contexto, a ignorância da própria ignorância pode constituir vários perigos, parecendo contudo, uma inevitabilidade.

Como dizia o comediante Ricky Gervais, os mortos não sabem que estão mortos – só é difícil e doloroso para os outros. Também a ignorância resulta no mesmo problema!