A menos de um ano das eleições legislativas, António Costa tem garantida a recondução no cargo de primeiro-ministro, só restando saber se continuará a necessitar das duas muletas que o têm suportado, formando aquilo que ficou popularmente conhecido como geringonça, ou se poderá “reinar” de forma absoluta, fruto de uma vitória esmagadora do Partido Socialista.
Poder-se-ia pensar que o resultado mais do que previsível das próximas legislativas seria fruto de uma governação exemplar dos socialistas durante os últimos anos. Mas essa seria, certamente, uma explicação afastada da realidade. António Costa e os seus acólitos governaram mal e o país conheceu situações que normalmente conduziriam a um “saneamento” popular do executivo em funções.
Durante os mais de três anos de Governo PS convivemos com um aumento da já elevadíssima carga fiscal, com o pesadelo dos incêndios em 2017, que provocaram mais de 100 mortos e 500 mil hectares de área ardida, resultado, não apenas das condições climatéricas, mas, também, de uma incapacidade gritante da proteção civil de gerir o combate aos fogos, com o desaparecimento de material de guerra dos Paióis Nacionais de Tancos, que conduziram à queda do ministro da Defesa, Azeredo Lopes, deixando patentes as fragilidades da segurança nacional, num processo mais do que caricato que não dignificou as Forças Armadas portuguesas, e, sobretudo, com uma enorme degradação dos serviços públicos, com a saúde e os transportes à cabeça.
Sobre estes últimos, refira-se que nunca como hoje os utentes se sentiram tão prejudicados pela fraca qualidade dos serviços, com insuficiência de recursos humanos e obsolescência de equipamentos. O exemplo mais chocante é o da ala pediátrica do Hospital São João, no Porto, onde as crianças são “despejadas” em contentores, pensados para serem provisórios, mas que se eternizaram, sem as mínimas condições para um país civilizado, com infiltrações, sucessivas avarias no sistema de aquecimento, falta de camas de isolamento e de espaço na enfermaria.
Em abril a paciência esgotou-se, com vários pais a revelarem que havia crianças a fazerem tratamentos de quimioterapia nos corredores, em condições indignas e miseráveis, só comparáveis às que nos habituámos a ver em imagens televisivas captadas em países do chamado Terceiro Mundo. Apesar disso, os 22 milhões de euros necessárias para a nova ala pediátrica do São João tardam em aparecer, mas, em contrapartida, há 50 milhões para baixar as propinas no ensino superior em 212 euros no próximo ano, beneficiando, sobretudo, as famílias mais ricas que não têm acesso à ação social.
Perante este cenário, imaginar-se-ia que os socialistas teriam o seu destino traçado, com os portugueses a mostrar-lhes um cartão vermelho nas próximas eleições. Nada de mais errado. Apesar dos inúmeros exemplos de má governação e decisões inadmissíveis, António Costa está certo de que será reconduzido nas suas funções. Será que somos masoquistas ou haverá razões mais profundas que levam a que voltemos a confiar numa liderança que provou ser incapaz de nos guiar em direção ao desenvolvimento socioeconómico?
Mais do que masoquismo, não parecem existir, atualmente, verdadeiras alternativas capazes de convencerem os eleitores a mudarem de rumo. Enredado em questiúnculas internas, o PSD, único partido que tradicionalmente disputava o poder com o PS, encontra-se sem norte, incapaz de oferecer uma verdadeira opção aos eleitores descontentes.
Acresce que o PS, ao contrário do que sucedeu com a dupla PSD/CDS quando detinha as rédeas do poder, é um verdadeiro expert em marketing político, sendo capaz de transformar uma derrota numa vitória, um insucesso num triunfo, mas, sobretudo, sabendo, como ninguém, lançar mão de medidas eleitoralistas capazes de lhe granjearem a simpatia de uma larga franja do eleitorado.
A reposição dos feriados, a redução dos horários da função pública para as 35 horas, o aumento do salário mínimo nacional, a gratuitidade dos manuais escolares, a redução das propinas no ensino superior, os aumentos dos salários na função pública em ano de eleições, entre outras, são medidas que conseguem angariar enorme apoio num público muito vasto.
No entanto, se procurarmos analisar as principais razões que ditarão mais quatro anos de Costa, naquilo que será, inquestionavelmente, um passeio eleitoral, verificamos que as mesmas se poderão resumir às condições económicas que o país tem conhecido nos últimos anos, com um crescimento contínuo do PIB, com uma redução significativa do desemprego e com o salário mínimo e as pensões a terem aumentos acima da inflação.
Recorrendo à frase celebrizada em 1992 por James Carville, estratega de marketing político de Bill Clinton, “É a economia, estúpido”, significando que, se a economia crescer durante o ano eleitoral, é mais provável a reeleição do executivo. O resto é conversa.