Um estudo da Universidade de Leicester descobriu que se mais 3% dos britânicos tivesse ido à Universidade não haveria Brexit porque o Leave teria perdido. É notável, apenas 3% mais, aquele número cabalístico que vai desde a percentagem dos americanos que possui metade das armas do país até ao limite para o défice nos critérios de Maastricht, passando pela percentagem de pessoas que realiza os seus sonhos ou a de indianos que paga imposto sobre o rendimento. Pois é, se apenas 3% dos nossos parceiros do lado de lá da Mancha fossem mais inteligentes, ou menos estúpidos, a história da União seria diferente.

Publicado na World Development, o estudo conclui que o nível de educação é mais importante que a idade, o género ou a percentagem de imigrantes no local. Mostra também que o resultado teria sido igualmente diferente se menos 7% dos eleitores tivesse votado, o que é suscetível de várias interpretações: por exemplo, que 3% de inteligentes vale 7% de estúpidos, o que acho forçado. No fim de contas, o que nos diz que só os estúpidos deixariam de votar? E já agora, como ficamos com esta tese, que nos faz pensar que são os estúpidos que decidem as eleições?

As eleições americanas são outro exemplo. Como no Reino Unido, milhões vieram às ruas nos dias seguintes a protestar contra o resultado, um novo paradoxo da política atual, uma espécie de democratas contra a Democracia. Como é que na Democracia mais avançada do mundo é eleito um mentiroso, sexista e mal-educado? O votante americano normal está mal informado, não sabe quem controla nem o que anda a fazer o Congresso, e não conhece a opinião dos candidatos sobre os temas importantes porque apenas faz uma ideia do que é importante. É que uma das razões porque as pessoas votam como votam é porque é diferente de comprar uma casa. Quando compro casa, passo meses a estudar preços e localizações, a avaliar acessibilidades e perspetivas de valorização. Mas porque hei de perder tempo a estudar candidatos cuja eleição depende não de mim, mas de milhões de outros eleitores? Então, vota-se em quem se conhece superficialmente, e por quem se tem simpatia. Um destes dias, o sapo Cocas ainda é eleito.

E nós? Lá em Leicester pensem o que quiserem, mas se fosse verdade o que dizem, como seria cá na terra? Oeiras é o concelho que concentra a inteligência em Portugal; se mais 3% dos portugueses tivessem andado na Universidade, o Isaltino ainda era Presidente da Câmara dos concelhos todos do País!

 

Nota biográfica: Hemp Lastru (n. 1954, em Praga) é sobrinho neto de Franz Kafka. Democrata convicto, ativista e lutador político, é preso várias vezes pela polícia secreta checoslovaca, tendo sido sentenciado em 1985 ao corte de uma orelha sob a acusação de “escutar às portas”. Abandona a política em 1999, deixando Praga para residir em Espanha. Mudou-se para Portugal em 2005 porque “gostaria de viver num país onde os processos são como descrevia o meu tio-avô nos livros.”