Era um dos maiores projetos estratégicos e de investimento estrangeiro no país.  Na gíria económica, teria efeitos diretos e indiretos, efeitos induzidos e externalidades (positivas). Seria a Autoeuropa do século XXI e daria sentido a Sines, cujo desígnio, decidido antes do 25 de abril, era ser um polo de desenvolvimento nacional, à Perroux.

O investimento mais mediático é hoje a construção de um centro gigantesco de armazenamento de dados digitais, alimentados a 100% por energias renováveis, via produção de hidrogénio verde. Mas existiam – finalmente! – outros planos de investimentos estratégicos, como a exploração de lítio em Montalegre ou, bafejados pelos ventos favoráveis do PRR, o plano ferroviário nacional, com a alta velocidade a reboque, de não menor importância.

A decisão sobre onde localizar o novo aeroporto de Lisboa também parecia poder terminar. E, como é sempre preciso encontrar pretextos, o Mundial 2030 seria o ingrediente que faltava para o potenciar e justificar ainda o eixo ferroviário Lisboa-Madrid. No topo do bolo, a cereja do fundo de investimento para o pós-PRR prevista no Orçamento do Estado para 2024.

Porém, a 7 de novembro, o país acordou para uma triste realidade. E se os efeitos políticos desta crise de identidade nacional têm sido amplamente discutidos, urge refletir sobre os seus expectáveis efeitos económicos. O que acontecerá a estes projetos, agora que paira sobre uns a suspeição de favorecimentos e outras irregularidades e sobre outros a condenação habitual a que são vetados quando se produz uma mudança de Governo?

Já tive oportunidade de referir aqui, a importância estratégica que terá para a Europa a produção de energias renováveis e como será incontornável que cada país se possa posicionar neste tabuleiro. Desta vez, o nosso país parecia conseguir entrar bem preparado na corrida.

Também tenho defendido a necessidade de investir em transportes coletivos. Temos um atraso sério nesta matéria em relação aos nossos parceiros europeus, visível em indicadores simples – em 2018, 88,4% dos portugueses deslocava-se de carro (Eurostat), ocupando o segundo lugar deste dispensável pódio. É impreterível desbloquear o investimento ferroviário.

Um dos anátemas da economia portuguesa no século XXI tem sido o seu diminuto investimento público. A discussão insistente sobre a execução do PRR é disso reflexo. Mas como é que a imagem de um Portugal corrupto irá afetar os projetos de investimento estrangeiro entre privados ou a transferência de fundos comunitários pela Comissão Europeia?

Não há dúvida. Somos o povo que mais se castiga.