Os países europeus estão submetidos a uma situação política complexa e desafiante face ao processo de paz na Ucrânia, cujas condições foram determinadas pelos Estados Unidos da América. Este processo de paz será conduzido pelos EUA e pela Rússia, contando, ainda, com a participação da Ucrânia, o que evidencia que o interesse dos EUA é superior ao ucraniano e, sobretudo, ao dos europeus. Poderemos estar, assim, de volta à lógica da ordem bipolar e ao fim da ordem unipolar.

Essa nova ordem surge por interesse dos EUA, que procuram aproximar-se dos russos, de forma a destituir a aliança sino-russa e evitar, deste modo, encarar dois adversários simultaneamente. Essa estratégia já fora desenvolvida por Richard Nixon aquando da aproximação à China e ao convite a este Estado para ser membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, provocando, por efeito, uma divisão no bloco socialista.

Para a administração Trump, a China é a maior ameaça à hegemonia dos EUA e, assim, será vital reduzir a influência chinesa no mundo e evitar uma dependência da Rússia à China. É, por isso, que o fim da guerra na Ucrânia acaba por ser essencial dentro da lógica dos EUA. Como ficam os europeus? Essa é a questão central.

Durante muito tempo, os países europeus abdicaram de possuir uma estratégia militar e de defesa autónoma dos EUA, confiando que os EUA estariam sempre disponíveis para defender os europeus de eventuais ameaças à sua segurança. Essa perspectiva não era, somente, política, tinha, também, um forte suporte académico e jornalístico, com um alinhamento ideológico. Os críticos desse posicionamento europeu eram reduzidos a anti-americanos e anti-NATO.

A dependência militar europeia representa uma negação da soberania e coloca em causa a autonomia estratégica dos países, mas ninguém esperava uma decisão tão radical dos EUA. Agora, os países europeus terão de enfrentar a dura realidade, num contexto altamente complexo em termos políticos, com o crescimento dos partidos de extrema-direita que ameaçam os alicerces das democracias.

Assim, colocam-se várias questões: como armar velhas nações onde se regista um crescimento de partidos de extrema-direita que já provocaram guerras no passado? Como investir no sector da defesa sem afectar o bem-estar social dos cidadãos e motivar o crescimento dos partidos extremistas? E como incentivar os jovens europeus a aderirem aos exércitos europeus? As respostas a este conjunto de questões terão que ser dadas pelos próprios europeus e isto dirá muito sobre o seu futuro. Porque parece ser mais fácil apoiar a Ucrânia do que morrer pela Ucrânia.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.