Com uma campanha minimalista realizada em pleno estado de emergência, sem quase qualquer logística apesar do apoio do seu partido de sempre, o PPD/PSD, e cumprindo apenas os requisitos formais, Marcelo Rebelo de Sousa alcançou uma enorme vitória. Subiu substancialmente em relação ao resultado de há cinco anos, superou os resultados das reeleições de Eanes, Sampaio e Cavaco, venceu em todos os concelhos de Portugal – o que nunca antes tinha acontecido. Torna-se assim, na figura central do regime, face à avaliação amplamente positiva dos portugueses.

Na verdade, esta vitória esmagadora de uma figura que se provou, nestas eleições, ser absolutamente consensual e querida por quase todos, coloca sobre a mesa a questão do que fazer com o mandato inequívoco de uma fortíssima legitimidade, que mais não será do que gerir e potenciar desafios complexos e enormes e amargos constrangimentos.

Portugal vive num sistema político cada vez mais decadente e em crise, a necessitar ser revitalizado. Urge alterar o nosso sistema eleitoral e político, efetuar reformas profundas na justiça e administração interna, reabilitar os serviços públicos cada vez mais degradados e recuperar a confiança dos cidadãos nas instituições perdida nos últimos anos. E é aqui que reside o enorme desafio da sua legitimidade ao ser eleito e vencendo ao centro, de forma transversal, aos vários eleitorados, e que será nos próximos anos o fator de estabilidade, esperança e unidade no país.

Noutros tabuleiros, conforme escrevi em anterior artigo de opinião, Marcelo corria praticamente sozinho nesta eleição, mas ninguém pensaria que conseguisse esta confiança avassaladora do eleitorado, pois todos os outros candidatos – e provou-se – representavam projetos pessoais ou partidários, e faziam uns uma luta pelo segundo lugar e outros pelo quarto lugar, em que a esquerda foi francamente penalizada e em que os candidatos-militantes do PCP e BE ficaram mais fracos e com menor capacidade negocial com o próprio Governo.

É neste contexto que o Presidente, com a confiança renovada dos portugueses, a quem se esforçou por dar “afeto” durante grande parte do seu primeiro mandato, que exerceu com um cunho forte de proximidade e empenhado em resolver os problemas das instituições, da economia, dos cidadãos.

Será, estou certo, o Presidente que o país precisa e o único que trará maior estabilidade, dará garantias de equilíbrio e a tão necessária unidade nacional, no quadro de crise que Portugal e o mundo atravessam. Há agora o imperioso e superior interesse nacional de mobilização para os desafios que os problemas sanitários nos trouxeram, e o que Portugal precisa nesta conjuntura é que o Presidente se mantenha próximo, mas acima de tudo aja, contrabalance as derivas de esquerda do Governo, continuando a pôr Portugal em primeiro lugar nas suas prioridades.