A grande dependência que a economia tem de fatores comportamentais que por sua vez dependem das expetativas dos agentes económicos, geram uma enorme incerteza na sua previsão. A inclusão de tendências passadas nos modelos de análise pode ajudar a diminuir essa incerteza, mas no atual contexto é difícil encontrar um percurso passado que sirva de modelo. Por isso, prever como vai evoluir a economia nos próximos dois ou três anos é um exercício particularmente difícil e as previsões das instituições económicas, para 2021, revelam essa dificuldade, com a OCDE a prever um crescimento do PIB de 1,7% e o FMI de 6,5%.

Numa tese de mestrado que orientei recentemente, a análise de dados históricos permitiu concluir que as previsões dos organismos nacionais tendiam a ser mais corretas. Olhemos então para as previsões do Governo e do Banco de Portugal (BdP).

O BdP, no boletim económico de dezembro, prevê para 2020 uma recessão de -8,1%, corrigindo a previsão de -9,5% feita antes do verão. Esse valor é ligeiramente mais otimista, mas próximo da previsão do governo (-8,5%). Para 2021, o BdP é mais contido que o Governo ao prever um crescimento do PIB de 3,9% (1,5 pontos abaixo). Já na taxa de desemprego o BdP aponta para 8,8% em 2021, e o Governo, de novo mais otimista, crê que o valor não ultrapassará os 8,2%.

Convém lembrar que as previsões do governo são as do OE e que as do BdP já incorporam informação do terceiro trimestre. Ainda assim, duas instituições nacionais com acesso a informação semelhante apresentam discrepâncias relevantes.

A verdade é que a recuperação dependerá, como nunca, de variáveis não económicas (à cabeça, da resolução da pandemia) mas também da forma como reagiremos quando a normalidade voltar. Se admitirmos que no final do terceiro trimestre já não haverá praticamente condicionamento na atividade económica, teremos cerca de três meses para acelerar o crescimento.

A reação das pessoas e das empresas será determinante. Do lado das pessoas pode, à semelhança do que aconteceu nos EUA depois da Primeira Guerra Mundial ou no final da gripe espanhola, haver uma necessidade de voltar rapidamente à normalidade disparando o consumo privado, e revertendo o aumento da taxa de poupança que se tem verificado. Do lado das empresas, a reação dependerá da forma como se aguentarem quando os incentivos (lay-off simplificado e moratórias) terminarem e isso ditará um aumento mais ou menos acentuado da taxa de desemprego e consequentemente do rendimento disponível das famílias.

Neste raciocínio, as variáveis a seguir para irmos medindo o pulso da economia serão o consumo privado e a taxa de desemprego, em particular esta última, não só porque condiciona a primeira (via rendimento disponível) mas também porque um valor mais elevado significará um tecido produtivo mais frágil e menos resiliente com consequências de médio prazo.

Em qualquer cenário as políticas públicas, a sua calibração, monitorização e rápida implementação serão absolutamente fulcrais, podendo fazer toda a diferença.