É de uma fábrica portuguesa que sai o quentinho para aquecer as casas do norte da Europa quando o frio atinge temperaturas negativas naquelas paragens durante os longos meses de inverno. No verão, é o sol português que aquece os turistas. No inverno, são as bombas de calor ‘made in Portugal’ que levam o calor do sol luso ao frio sentido no norte da Europa.
A Bosch de Aveiro começou por produzir esquentadores a gás, com marcas clássicas das casas portuguesas a sair desta fábrica durante décadas, como Vulcano ou Junkers. Pelo meio, apostou em caldeiras a gás, mas a transição energética bateu à porta e obrigou o chão de fábrica a apostar na produção de bombas de calor.
São uma espécie de Tesla ou BYD do aquecimento das casas: consomem menos, deixaram o fóssil para trás, com recurso a eletricidade (se o eletrão for verde, melhor).
Este ano a fábrica volta a bater recorde de vendas: 526 milhões de euros, contra os 451 milhões registados em 2024, que também foi um recorde.
O disparo nas vendas tem tido lugar à boleia do crescimento da unidade de negócio das bombas de calor, depois de um investimento de 100 milhões de euros no ano passado para desenvolver a unidade de engenharia e os laboratórios.
“Fizemos um investimento único, brutal, dos quais 35 milhões estão relacionados com engenharia e laboratórios. A Bosch investe em linhas de produção, mas também em engenharia que é uma âncora perfeita de 20 ou 30 anos para Aveiro e Portugal”, destaca Jónio Reis, diretor da Bosch Aveiro.
A primeira unidade de bombas de calor arrancou em 2023 com os mercados principais a serem a Europa Central, incluindo Alemanha, França, Itália, Reino Unido, entre outros.
“Só para ter uma ideia da importância que Aveiro tem, somos responsáveis por quase 50% de todas as bombas de calor produzidas” pela Bosch, disse, por seu turno, João Lagarto, responsável pela produção em Aveiro.
E o vento sopra de feição. Até ao final da década, está previsto que o mercado europeu duplique, com um crescimento anual na casa dos 10%.
Mas há desafios pela frente. Uma das desvantagens das bombas de calor são os preços elevados, deixando de fora muitos consumidores. A ideia agora é produzir estes equipamentos a preços mais competitivos, com o ganho de escala e com mais inovação ‘made in Aveiro’. Para o mercado do sul da Europa, está a ser preparado um modelo mais barato, uma bomba latina, que deverá chegar ao mercado no próximo ano.
Por ano, estão a ser vendidos 1,2 milhões de unidades, esperando-se que supere os 2 milhões de unidades anuais já na década de 30.
A companhia também continua a produzir esquentadores que continuam a dar cartas, apesar de alguma desaceleração.
“Identificamo-nos como uma empresa multi-tecnologia. A nossa responsabilidade não é oferecer apenas bombas de calor, mas também todo um portefólio de produtos aos nossos clientes, dependendo da sua capacidade financeira, do tamanho das suas casas, dos perfis de consumo”, afirmou, por sua vez, Evandro Amorim, responsável pelos negócios da Bosch Aveiro. Os esquentadores continuam a ser vendidos para os países europeus, mas também para o norte de África, incluindo a Argélia, e América Latina. Esquentadores elétricos e caldeiras a gás continuam a sair das linhas desta unidade.
Atualmente, está a ter lugar a construção de um novo edifício em Aveiro para albergar uma nova linha de produção, de bombas de calor num investimento de 2 milhões de euros.
Mas nem tudo foi um mar de rosas. Em 2018, a companhia entrou em modo cruzeiro para adaptar os seus esquentadores e reconverter a linha de produção para garantir que os produtos obedeciam a novas regras europeias de emissões de gases poluentes e de eficiência energética.
“Não fomos capazes de responder rapidamente. Perdemos quota de mercado. Já se estava a dar os primeiros sinais de eletrificação. Tivemos muitas dificuldades. E pensámos: porque não produzir e desenvolver outros produtos? É aí que se dá o grande ‘boom’ e é quando passamos a ter as primeiras bombas de calor”, conclui Jónio Reis.
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