A crise pandémica que atravessamos está a colocar uma enorme pressão sobre todo o sistema de saúde e em particular sobre o SNS. Esta realidade está também a tornar visível as fragilidades de todo o sistema e a necessidade de reformas que permitam uma maior e melhor capacidade de resposta à realidade que temos pela frente no pós-pandemia.

A juntar a fatores já há muito conhecidos, como o envelhecimento ou o aumento de doenças crónicas, e outros um pouco mais recentes como o crescimento do sector hospitalar privado e um maior peso das seguradoras, surgem no contexto desta pandemia outros fatores como o incremento da telemedicina ou a reorganização (forçada) da prestação dos cuidados de saúde.

Como também é conhecido, a pandemia levou a uma priorização dos recursos, canalizando o (enorme) esforço dos profissionais de saúde para o combate à Covid-19. A consequência foi a redução da capacidade para atender a outras necessidades. Como é que se vai normalizar a situação no pós-pandemia? Quais as prioridades? Qual a capacidade que vai existir no “day after” face ao cansaço de todos e à contaminação pelo SARS-CoV2 de muitos dos profissionais de saúde?

Um outro fator fundamental nesta equação (e que não é de agora) é o aumento sistemático das despesas em saúde e a um ritmo superior ao do crescimento da economia. Tendo em consideração o crónico fraco crescimento económico do país, até onde será possível aportar mais recursos financeiros para a saúde? E no tempo mais próximo, no pós-pandemia, que recursos financeiros serão necessários (e de onde virão) para a “normalização” do sistema de saúde?
Para além do período de recuperação no pós-pandemia, importa também refletir (para atuar) sobre o sistema de saúde no longo prazo.

Perante os dados de que dispomos e as tendências que se verificam, que sistema de saúde queremos e podemos pagar para Portugal? Queremos um sistema de saúde onde os prestadores públicos e os prestadores privados atuem de forma coordenada ou um SNS que por si só tenha capacidade para dar resposta a todas as necessidades presentes e futuras da população? Em sede de canalização dos recursos públicos queremos dar uma maior prioridade à saúde em detrimento de outras áreas? Queremos reforçar a aposta na formação de médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde em Portugal ou recorrer à imigração desses profissionais?

Estas são algumas das questões sobre as quais importa fazer uma reflexão alargada (mas também urgente) para a definição de uma visão que enquadre as reformas que urgem fazer.