Angela Merkel é a líder mundial da atualidade que mais admiro e tem, neste momento, também no seu país, uma taxa de aprovação de cerca de 90%, o que dá ao seu partido uma vantagem imensa nas próximas eleições de 26 de setembro, justamente no mesmo dia das eleições autárquicas portuguesas.

Merkel ficará na história, seguramente, como uma das principais obreiras da construção e consolidação do projeto europeu, sobretudo nas crises que este foi sofrendo. Mais recentemente, e em conjunto com a sua compatriota Ursula von der Leyen, teve igualmente o mérito de alcançar durante a presidência semestral rotativa do Conselho da União, um consenso entre os 27 para aprovar o Fundo de Recuperação Europeu, destinado ao combate à crise da Covid-19, fundamental para o recobro económico pós-pandemia.

Responsável pelo essencial do desenho do Mecanismo de Recuperação e Resiliência, conseguiu também desbloquear a oposição da Polónia e da Hungria no que concerne ao condicionalismo do Estado de Direito.

Antes, em 2008, com a crise económico-financeira mundial, que fez tremer a Europa e colocou o euro à prova, Merkel foi a principal arquiteta do plano da recuperação e das políticas de apoio aos diferentes países da União. A política de socorro aos Estados deste bloco, gizada por ela, gerou enorme insatisfação entre os países do Sul, que tiveram de se submeter a políticas de austeridade impostas como contrapartida para o auxílio financeiro.

Nesta gestão, deu um sinal importante aos seus compatriota – foi uma forma de dizer ao contribuinte alemão, que tem uma mentalidade muito disciplinada, que estava a zelar pelo seu dinheiro –, o que lhe garantiu o apoio interno de que necessitava.

E com efeito zelou, dado que a economia alemã está, há mais de uma década, em franco crescimento, algo que os governos socialistas e da geringonça deviam atentar, em vez de esbanjar recursos de forma tentacular e em entropia com a famiglia.

A chanceler consolidou a sua imagem como uma das principais líderes mundiais, mas não assegurou o fortalecimento da União Europeia que, assim, fica mais pobre e débil na sua liderança, deixada a Macron, fragilizado com os inúmeros problemas internos.

A modesta, mas hábil chanceler retira-se de cena, mas vai integrar a galeria de mulheres notáveis, como Margaret Thatcher, que governou num estilo que esteve nos seus antípodas.

No princípio da história ninguém acreditava na filha de um modesto merceeiro, nem na discreta favorita de Kohl, que cresceu sob o regime comunista da Alemanha Oriental. Mas o mais fascinante na política são estas boas surpresas de pessoas, e concretamente mulheres, que conseguiram superar os preconceitos e guindar-se a modelos governativos exemplares.

No âmbito da política doméstica destaco Suzana Garcia que, num estilo muito próprio, mas pleno de princípios e de ética, conceitos quase desconhecidos, tenta corajosamente romper interesses instalados.

Diz-se que a sorte protege os audazes e foi assim com Thatcher e Merkel, esperando que outros exemplos se sigam a nível europeu, mas também a nível nacional, porque deles muito precisamos!