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“É no somatório de gestos pequenos que se faz a diferença”

Na jornada da sustentabilidade não existem empresas imunes aos desafios estruturais, mas as fabricantes tecnológicas encaram novas exigências. Mudança não parte, mas também depende, dos consumidores, alertam especialistas.
17 Dezembro 2022, 13h00

As empresas encaram alguns soluços na hora de incorporar os critérios de sustentabilidade nos modelos de negócio, mas a transformação que se exige em tempo recorde deve partir de dentro para fora e ir além da cadeia de produção. As considerações partem do consultor para a área da sustentabilidade, Gabriel Londe Medeiros, que se juntou à diretora de marketing e comunicação da iServices, Vânia Guerreiro, na mais recente JE Talks.

O especialista avisa que as empresas, em particular as pequenas e médias, têm “uma grande dificuldade em incorporar os critérios ESG (Environmental, Social & Governance) naquilo que é o seu core business”. Medeiros explica que para realizar esta transição para uma nova economia, que se quer circular, é também um desafio profundo – que se torna tanto mais complexo quanto mais pequena for a empresa.

Contudo, há exceções. E essas, por norma, nascem a partir dos próprios desafios da sustentabilidade. A iServices, empresa especializada na reparação e recondicionamento de smartphones, crê ser uma dessas exceções. “O princípio pelo qual foi fundada foi um princípio de minimizar o impacto e a pegada ecológica que cada um de nós, todos os dias, tem no ambiente”, explica Vânia Guerreiro. A diretora de marketing e comunicação da empresa salienta que “qualquer pessoa que tenha tecnologia à sua volta é geradora e criadora de uma pegada ecológica associada a essa utilização”.

Mas se o destino final de um qualquer produto ou serviço é o consumidor, sublinham os dois convidados da JE Talks, a sustentabilidade deve partir do princípio.

“A sustentabilidade precisa de estar desenvolvida desde o início”, garante Gabriel Londe Medeiros. As empresas que o queiram fazer, podem acelerar a transição, mas há que “pensar em todos os departamentos” e dar início à transformação internamente. Isto é, “ter os engenheiros a conversar com o sector financeiro, o comercial a conversar com o marketing”, para que essa ligação e transformação “aconteça em todas áreas da empresa, de forma transversal”.

“O produto final de toda essa interação interna vai ser o que esperamos de um produto mais sustentável”, reforça o especialista, que considera que o greenwashing também está muito presente nas estratégias de marketing, com aquilo que classifica de “um uso excessivo” e por vezes desonesto de termos como ‘eco’, ‘sustentável’, ‘green’, etc.

Contudo, diz “nos produtos é fácil”, nos serviços… Nem tanto.

Já Vânia Guerreiro recorda que todos os pontos importam, “desde a escolha dos fornecedores à garantia da forma como é feita a deposição dos componentes e peças” e dá o exemplo de quando a iServices retirou uma mísera folha de plástico transparente de certas embalagens e a trocou por um desenho do produto. Um gesto pequeno, é certo, mas que resultou numa redução significativa do plástico em circulação pela marca.

“É no somatório de pequenos gestos que se faz a diferença”, sublinha, sem esquecer que “outra área de negócio importante é a comercialização” – um segmento que ainda anda, por vezes, à boleia das decisões regulatórias.

Mas o caminho, garante a mesma, deve começar ainda mais cedo e, no caso das fabricantes tecnológicas, os desafios vão além da sustentabilidade. “Falar de sustentabilidade, nalguns casos, implica falar de direitos humanos”, recorda Vânia Guerreiro.

“Um smartphone para chegar ao mercado e estar à venda gera, só para a sua produção, cerca de 200 gramas de lixo eletrónico, sem contar com a extração [de minerais]”, diz. A isto, soma-se a obsolência programada, que Gabriel Londe Medeiros considera “uma prática muito presente nas áreas mais tecnológica”. Mas, sobre essa, virão novas diretivas e decisões por parte da União Europeia, já no próximo ano.

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