A Covid-19 abalou a economia mundial, repentinamente, tornando imprescindível ter planos B e C e exigindo muita proatividade na tomada e implementação das decisões.

Atualmente, Portugal é o primeiro país do mundo com mais mortes de Covid-19 por milhão de habitantes, uma situação que está a colocar o sistema de saúde sob grande pressão e a prejudicar a economia do país.

Uma das medidas adotadas pelo governo português, para evitar um colapso financeiro em março de 2020, foi a concessão das moratórias de crédito a particulares e empresas com quebras no rendimento. Isso adiou o nível de incumprimento no setor bancário e, consequentemente, também a próxima crise imobiliária.

Esta medida tem sido muito vantajosa para os devedores, cujo cash-flow, exaurido pela crise económica, é poupado pelo facto de estes não terem que liquidar as prestações por inteiro, ou poderem optar apenas pelo pagamento dos juros, dando-lhes uma oportunidade de sobreviver durante este tempo difícil e pouco previsível.

Sem as moratórias, a quebra da economia seria mais acelerada por via de uma grande taxa de incumprimento de crédito, quer pelos particulares, quer pelas empresas. Isto aumentaria ainda mais a carteira de non-performing loans já existente na banca, colocando pressão sobre os valores dos ativos imobiliários do país.

Mas o que vai acontecer quando acabarem as moratórias?

Vejamos três cenários diferentes e algumas sugestões de como minimizar a taxa de incumprimento em cada um deles.

Cenário A: a situação financeira do país melhora com a retoma das atividades económicas, como resultado do abrandamento da pandemia, e os devedores conseguem liquidar as suas dívidas atempadamente. Neste caso será suficiente:

  • Acompanhar os devedores que não estejam a cumprir os planos.
  • Seguir os procedimentos normais para tratar dos non-performing loans.

Cenário B: a economia ainda está a sentir o impacto dos danos criados pela pandemia e terá que agir para minimizar os incumprimentos de crédito. Neste caso será necessário:

  • Incentivar as empresas a manterem a sua rentabilidade (por e.g. por via de uma redução nos impostos em troca da manutenção dos postos de trabalho);
  • Reavaliar a situação económica do país e estender o apoio do Estado aos devedores que continuem a ter dificuldades financeiras;
  • Prolongar as moratórias e aplicar um imposto extra aos rendimentos destes devedores, apenas após a retoma das suas atividades normais, para compensar o custo do prolongamento.

Cenário C: a pandemia continua a afetar a situação sanitária e económica do país, prejudicando a situação financeira do setor privado, bem como do setor público. Neste caso será importante:

  • Incentivar as empresas a reinventarem os seus modelos de operações (por e.g.: focar na revitalização dos setores de hotelaria e turismo através de uma aposta contínua no segmento nómades digitais, a conversão dos hotéis em habitação local, etc.);
  • Apoiar na up-skilling dos cidadãos, sobretudo no setor digital (TI, consultoria, serviços especializados) para que possam representar e acrescentar valor para o país no estrangeiro, por e.g. através dos trabalhos a realizar no formato off-shoring aliado ao teletrabalho, em vez da exportação do talento;
  • Repensar a utilização dos edifícios comerciais, devido ao teletrabalho prolongado, por e.g. através da conversão destes para habitação com apoios fiscais do estado, medida essa que lhes irá permitir gerar rendimento e consequentemente conseguir cumprir com os planos de reembolso.

Resumidamente, o que se pretende com o fim das moratórias é que haja cumprimento dos planos de liquidação por parte dos devedores. O ‘penso-rápido’ que foi aplicado durante a crise sanitária, idealmente deverá ser retirado com cautela para não elevar os ferimentos causados à economia, mas aliviar os impactos negativos e tornar do país um exemplo de sucesso!