A “febre” em torno dos descontos que os retalhistas promovem durante a Black Friday há muito que deixou de ser um fenómeno exclusivo da cultura norte-americana, passando a ser uma tendência global. Portugal também não escapa a esta tendência, com as previsões a apontarem para que nove em cada dez portugueses estejam a equacionar fazer compras durante esta época.

O fenómeno tem-se expandido à medida que o comércio eletrónico está cada vez mais enraizado nos hábitos dos consumidores. De acordo com algumas estimativas, as compras online durante esta época de pico de vendas – que começa em novembro com a Black Friday e a Cyber Monday e prolonga-se até ao final do ano com as compras natalícias – deverão atingir os 910 mil milhões de dólares, em termos globais.

Para muitas empresas, este é de facto o melhor período de vendas do ano, permitindo escoar produtos e fidelizar clientes. Para os consumidores é uma oportunidade única para comprar os produtos desejados – habitualmente mais caros, como os eletrodomésticos e os artigos tecnológicos – com descontos apreciáveis.

Mas como capitalizar as oportunidades geradas por este evento? Existem múltiplas abordagens possíveis – sobretudo focadas nas estratégias que as retalhistas devem adotar para maximizar as vendas durante este período. Mas essa não é a perspetiva que gostaria de colocar em cima da mesa e trazer para o debate público. Prefiro antes abordar uma outra vertente, ainda pouco explorada, sobre este tema: como as empresas poderão utilizar a Black Friday como parte de uma estratégia de incentivos aos seus colaboradores.

Confuso? Passo a explicar: através, por exemplo, da antecipação do pagamento do subsídio de Natal, as empresas dão a possibilidade aos seus colaboradores de fazerem as suas compras natalícias mais cedo e aproveitarem os descontos da Black Friday. Com isto, os colaboradores vão poder obter poupanças significativas nas suas compras.

As organizações com políticas de gestão de recursos humanos mais inovadoras e disruptivas poderão mesmo oferecer aos seus colaboradores uma parte do dia, para que estes possam aproveitar os descontos associados a este evento. Estes são exemplos de medidas de incentivo simples que podem fazer a diferença na vida financeira dos colaboradores, fomentar um maior envolvimento entre a equipa e a organização e, ao mesmo tempo, criar um maior dinamismo na economia.

De igual forma, a Black Friday é uma excelente oportunidade para os reguladores e as instituições reforçarem a importância da literacia digital e financeira, relembrando aos consumidores aos conselhos básicos que devem ter em conta durante estas épocas promocionais. O objetivo é evitar que as pessoas caiam na tentação de comprarem artigos que não necessitam, só pelo facto de se encontrarem em desconto.

Mas, sobretudo ajudá-las, a fazer as compras de uma forma inteligente e eficaz – através, por exemplo, da monitorização antecipada dos preços dos artigos que se pretendem adquirir na Black Friday para se ter uma noção do desconto real associado a cada artigo.

Ao mesmo tempo, e porque uma grande parcela das vendas da Black Friday é feita através do comércio eletrónico – nunca é demais relembrar a importância da seleção de sites seguros e de confiança para fazer compras online e alertar para as boas práticas que devem ser tidas para evitar eventuais burlas ou fraudes cibernéticas que possam surgir.

Todos os atores intervenientes neste “xadrez” do comércio online saem a ganhar se os consumidores forem cada vez mais informados, esclarecidos e conscientes.