Quando o Instituto Nacional de Estatística divulgou, recentemente, que o Índice de Preços da Habitação subiu 16,3 % no primeiro trimestre de 2025, atingindo o valor mais alto desde que há registo, a notícia foi recebida com surpresa por muitos. Mas quem acompanha o mercado sabia que este desfecho era inevitável. Há anos que a procura se sobrepõe largamente à oferta, e os alertas sobre a escassez de construção foram sendo ignorados ou diluídos em discursos bem-intencionados, mas pouco consequentes. Desde 2015, os preços praticamente triplicaram. A crise não começou agora, apenas se tornou impossível de contornar.

Em 2023, acreditou-se numa travagem natural: subida de juros, inflação, abrandamento da procura. Mas o que aconteceu foi exatamente o contrário. As transações voltaram a crescer, a construção manteve-se em níveis historicamente baixos, e o investimento, tanto nacional como estrangeiro, não recuou. O resultado está à vista: um mercado pressionado, onde quem quer comprar não consegue, e quem já comprou vê o valor do seu ativo aumentar num ciclo que parece não ter fim.

Neste contexto, o novo ciclo político enfrenta uma encruzilhada. Dizer que a habitação é uma prioridade é fácil. Muito mais difícil será concretizar essa prioridade num conjunto coerente de políticas públicas com impacto real. Não basta distribuir subsídios ou travar rendas, é preciso desbloquear o que está parado, licenciar mais, construir mais, dar confiança a quem quer investir e a quem quer viver nas cidades. O risco de continuar a adiar decisões estruturais é elevado: não apenas do ponto de vista social, mas também económico e financeiro.

O Banco de Portugal tem vindo a alertar para a exposição das famílias ao crédito e para os riscos da sobrevalorização dos ativos. Ao mesmo tempo, a classe média vê-se empurrada para a periferia ou para o adiamento de decisões de vida que deviam ser naturais: sair de casa dos pais, ter filhos, mudar de cidade. A habitação deixou de ser um tema apenas económico para se tornar um problema social de fundo. E nenhum país cresce de forma saudável quando o acesso a uma casa condigna se transforma num privilégio.

É preciso, portanto, fazer escolhas. Não daqui a cinco anos – agora. A escolha entre uma política de habitação fragmentada ou uma estratégia nacional com visão e ambição. Entre medidas reativas ou reformas estruturais. Entre deixar o mercado seguir sozinho, ou criar as condições para que funcione em equilíbrio com a realidade social do país. Porque o tempo das promessas passou. E o preço da inação está a ser pago por todos, mês após mês.