Os partidos centristas foram os grandes vencedores das eleições holandesas.

O VDV de Mark Rutte, primeiro-ministro há 10 anos, voltou a vencer, reforçando os resultados alcançados nas últimas eleições legislativas em 2017, tendo conseguido obter 35 lugares para o Parlamento, dos 150 que o compõem, quando em 2017 conseguira apenas 33.

Rutte afirmou que os eleitores nos Países Baixos deram ao seu partido um “voto de confiança esmagador”.

Se isto fosse em Portugal, os comentadores de serviço iriam seguramente proclamar a derrota do VDV em toda a linha, porque apenas conseguiu menos de um quarto de votos para a maioria absoluta.

Os “liberais-progressistas” do D66, partido centrista e europeísta de Sigrid Kaag, ministra do último governo de coligação de Rutte, alcandorou-se a segunda força política do país, tendo obtido o melhor resultado de sempre da história do Partido, fundado há mais de 50 anos. Sigrid Kaag afirmou que sempre acreditara que os holandeses não eram extremistas e que apreciam a política pela positiva.

Os partidos centristas foram, assim, os grandes vencedores das eleições holandesas. Se  fosse assim em Portugal, poder-se-ia dizer que haveria esperança pelo centro e por políticas construtivas…

Um outro aspeto deste ato eleitoral, a complicar a formação do futuro Governo, foi o facto de 17 forças políticas terem obtido representação na Câmara Baixa do Parlamento, contra as 13 da legislatura anterior, o que aumentou a fragmentação política e a dispersão de votos.

Só que que as negociações não vão ser fáceis, “à la geringonça”.

Apenas para se ter uma ideia do trabalho de resiliência e de paciência na formação do Governo em 2017, os acordos de coligação demoraram mais de seis meses a ser obtidos.

Mas o primeiro-ministro holandês é um negociador duro, líder informal do grupo dos chamados “frugais” – Suécia, Dinamarca Áustria e Finlândia–, que tem insistido em cortar o fundo de recuperação das economias europeias, afirmando que o dinheiro só deve ser dado aos países do Sul se estes fizerem reformas económicas.

Também na sua vida pessoal é frugal. Solteiro, mora numa casa modesta que adquiriu depois de terminar os seus estudos, tem um carro em segunda mão e desloca-se preferencialmente de bicicleta.

Não me recordo, apesar de todas as ciclovias construídas, nomeadamente na cidade de Lisboa, de ter visto algum ministro e, muito menos o primeiro-ministro ou sequer o Presidente da Câmara Municipal a deslocarem-se em velocípedes.

Melhor. Rutte não é um teórico que ingressou nas jotas do seu Partido, esteve antes no setor privado, em multinacionais como a Unilever, “onde trabalhou como gestor de recursos humanos e gestor de pessoal na Calvé e na IGLO Mora Group BV”.

Era de um primeiro-ministro assim que Portugal precisava: modesto, frugal, com experiência na privada e estadista, para conter os gastos e a propaganda desbragada deste Governo.

Não se chama Mark Rutte, mas pode bem chamar-se Rui Rio!