Desculpe-me o habitual consenso de comentadores que andam sempre à procura de pretextos para acusa de mediocridade o Presidente dos EUA, mas talvez Donald Trump tenha razão em impor barreiras protecionistas, defender o “America First” e denunciar os abusos da globalização, que abriram as portas a uma concorrência desleal da Índia, da China e até da Alemanha.

É sobre isto, sobre o falhanço da globalização, que versa um livro de Ian Bremmer, recentemente lançado nos EUA. Um livro que nos explica onde está a falhar o modelo que se impôs na Europa e nos Estados Unidos nestes últimos 30 anos e porque estão o protecionismo e o populismo a ganhar adeptos um pouco por todo o mundo. A verdade é que nunca como agora a desigualdade foi tão grande nos países que abraçaram o liberalismo e o livre comércio.

Bremmer é presidente e fundador do Eurasia Group, empresa líder mundial na consultoria e análise de riscos políticos, com escritórios em Nova Iorque, Washington e Londres e uma rede de especialistas que se alarga por 90 países, e um dos mais aclamados opinion leaders da actualidade, com artigos publicados nos mais importantes jornais e revistas mundiais, desde o “Financial Times”, “Foreign Affairs”, “Harvard Business Review”, “The Washington Post” e “The Wall Street Journal”, e colaborações na “Reuters”, “CNBC”, “Bloomberg” e “BBC”.

Os arautos da globalização prometeram-nos um mundo de bem-estar em que o livre comércio suportaria indefinidamente o crescimento económico mundial. Um mundo perfeito em que até a esquerda e direita tradicionais acabariam por se render aos valores dos princípios liberais. Mas bastaram as primeiras duas décadas do século para arrumar com a fantasia de um mundo sem pobres, sem desemprego e de cada vez mais igualdades entre todos.

Hoje, as vítimas da globalização, os que pagaram um preço alto por ela, voltaram-se para as propostas de políticos populistas e nacionalistas e expressam com fervor o seu protesto junto das elites da política, dos negócios e dos media, que responsabilizam pelas suas perdas.

Nos EUA, o presidente Trump é um protecionista, anti-imigração, que prometeu voltar a pôr a América em primeiro lugar. Na União Europeia, da Grécia do Syriza à Espanha do Podemos (e ao Portugal bloquista), ao Reino Unido do Brexit, uma franja crescente da população clama bem alto pela mudança, que proteja os países e feche as fronteiras aos excessos da globalização e do liberalismo sem limites.