A “expulsão” da “floresta” para o Ministério do Ambiente e do “desenvolvimento rural” para o novo Ministério da Coesão Territorial, são a assumpção oficial do que já se sabia: António Costa e o PS de florestas percebem zero! O que ficou patente particularmente após os incêndios florestais de 2017. Nunca perceberam, ou talvez melhor, nunca quiseram perceber. Não houve, não há nem haverá, grupos de especialistas ou comissão de sábios que lhes possam explicar o que se recusam a ver, porque outros interesses e orientações os guiam. O que acaba de acontecer com a orgânica do Governo é apenas o culminar de uma política florestal desastrosa.
Não se percebeu nem se quer perceber a realidade agroflorestal do Norte e Centro, nem as causas profundas da desertificação económica e humana de vastas áreas do território. Não se quer assumir os resultados de políticas que esvaziaram o mundo rural e o interior de gentes e agricultura e que são responsáveis pelo lavrar regular de grandes incêndios florestais nas últimas décadas, que outros lavrares foram extintos.
Não perceberam ainda que os mosaicos nos espaços rurais, intercalando espaços agricultados com espaços florestais, foram e são uma das formas mais eficazes de travar a progressão dos fogos. Não querem assumir que, em 2017, nos incêndios de Pedrógão e de 15 de Outubro está presente, entre outros abandonos culturais, o abandono da área de vinha. Uma redução (1983/2023) de 2/3 na Beira Litoral e 50% na Beira Interior. Onde passaram a medrar, no melhor dos casos eucaliptos, em geral cobriram-se de silvas e matos!
Como é possível que um Governo tente desligar, desarticular, separar a intervenção pública na floresta do minifúndio das políticas para a agropecuária e o mundo rural? As áreas baldias, 10% da floresta portuguesa, vão ter a sua floresta sob a tutela do ambiente, mas as vacas e os rebanhos que lá pastam são comandadas por ministério vazio? Como é possível que se escreva no Programa do Governo “O consenso técnico aponta para a necessidade de criar uma floresta ordenada, biodiversa e resiliente, conjugada com um mosaico agrícola, agro-florestal e silvopastoril (…)” e depois se rebente com a integração “natural” dessa realidade?
Há os que avançam com a desculpa de mau pagador da impossibilidade da tutela bicéfala de um ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e da Floresta. Os mesmos que apadrinharam, com os governos do PS/Sócrates, a destruição, esvaziamento funcional e orgânico e envelhecimento da Direcção Geral das Florestas, e depois a inacreditável fusão da estrutura para as florestas com o Instituto da Conservação do Ambiente, por ordem da ministra Cristas, para “poupar” no pessoal.
Não deixa de ser irónico que seja o Ministério que nunca foi capaz de proteger de forma eficaz e preventiva a floresta das Áreas Protegidas, há muito sob a sua exclusiva tutela – que o digam os incêndios que, muito mais que uma vez, devastaram o Parque Nacional da Peneda Gerês, os Parques Naturais da Estrela, de Montesinho, Douro Internacional, S. Mamede e outros – que passa agora a tomar conta de toda a floresta… Valha-nos a Santa, advogada das coisas impossíveis! Mas como esse ministério é dito da Transição Energética, deve ser para facilitar o derrube de áreas florestais destinadas à implantação de parques fotovoltaicos, em nome da descarbonização! E há quem pense que as árvores somem carbono…
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.