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“e-toupeira”: operação da PJ travou contratação de sobrinho de arguido pelo Benfica

O assessor jurídico do Benfica Paulo Gonçalves, que foi constituído arguido no âmbito do “e-toupeira”, já teria enviado para os recursos humanos do clube o currículo do sobrinho do oficial de justiça suspeito de ser a “principal toupeira” dos “encarnados” no sistema de justiça.
  • Tiago Petinga/Lusa
27 Março 2018, 09h43

O sobrinho do funcionário do Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça (IGFEJ) que se encontra detido no âmbito do caso “e-toupeira” só não foi contratado pelo Sport Lisboa e Benfica devido à operação desencadeada pela Polícia Judiciária (PJ), informa o “Jornal de Notícias” na edição desta terça-feira.

Segundo o jornal, o assessor jurídico do Benfica Paulo Gonçalves, que foi constituído arguido no âmbito do “e-toupeira”, já teria enviado para os recursos humanos do clube o currículo do sobrinho do oficial de justiça suspeito de ser a “principal toupeira” dos “encarnados” no sistema de justiça.

A contratação do indivíduo para o Museu Cosme Damião só terá sido travada pela operação policial de 6 de março. Naquele dia, o funcionário do IGFEJ José Augusto Silva e Paulo Gonçalves foram, no âmbito da “Operação e-toupeira”, que investiga suspeitas dos “crimes de corrupção passiva, corrupção ativa, violação do segredo de justiça, favorecimento pessoal e falsidade informática”, segundo informou a Procuradoria-geral Distrital de Lisboa.

Operação em cinco regiões

A operação foi desenvolvida através da Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) e no âmbito de um inquérito que corre termos no DIAP de Lisboa. Foram cumpridos seis mandados de buscas domiciliárias, um “mandado de busca a gabinete de advogado” – no caso, Paulo Gonçalves – e 21 mandados de buscas não domiciliárias. A operação envolveu cerca de 50 elementos da PJ – incluindo inspetores e peritos informáticos –, um juiz de instrução criminal e dois procuradores-adjuntos do Ministério Público. Foram realizadas 30 buscas nas áreas do Porto, Fafe, Guimarães, Santarém e Lisboa, “que levaram à apreensão de relevantes elementos probatórios”, refere a PJ.

As autoridades perseguem a comprovação de indícios da “prática de acessos por funcionários a diversos inquéritos em segredo de justiça para obtenção de informação sobre diligências em curso, informações que eram depois transmitidas a assessor da administração de uma sociedade anónima desportiva a troco de vantagens”, segundo a Procuradoria-geral Distrital de Lisboa.

O “Jornal de Notícias” refere que nos telemóveis apreendidos foram encontradas mensagens entre o assessor jurídico do Benfica e outros arguidos no processo, na aplicação de comunicações Whatsapp, consideradas “especialmente relevantes” para o caso.

José Augusto Silva ficou em prisão preventiva, indiciado pelos crimes de corrupção passiva, favorecimento pessoal, peculato, burla informática, falsidade informática, nove crimes de acesso ilegítimo e mais quatro crimes de violação de segredo de justiça, estes em coautoria com Paulo Gonçalves. O assessor jurídico do Benfica ficou em liberdade, mas proibido de contactar com os outros arguidos do processo.

Benfica reafirma confiança em Paulo Gonçalves

Apesar disto, os dirigentes do Sport Lisboa e Benfica voltaram a depositar a sua confiança no seu principal assessor jurídico. Em comunicado, a 9 de março, a direção do clube e o conselho de administração da SAD comunicaram “aos seus sócios, adeptos, parceiros e colaboradores” já ter reunido com o departamento jurídico, e posteriormente com os advogados do Benfica, onde “deliberaram, por unanimidade, manter a sua integral confiança em Paulo Gonçalves, aguardando com serenidade a conclusão do processo e reiterando uma vez mais a sua total colaboração para com as autoridades judiciais”.

Depois, o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, veio a público pedir celeridade à justiça portuguesa e assegurou que os “encarnados” vão agir criminalmente contra quem tem “manchado” a imagem do clube nos últimos tempos.

“Quero dizer a todos os benfiquistas que, tanto eu como a minha direção, nunca, mas nunca, manchámos a honra ou dignidade do Benfica. Fomos vítimas de um ataque sem precedentes em Portugal. Violaram-nos toda a nossa privacidade, de anos e anos de uma empresa com dimensão mundial. Infelizmente para nós, nada sucedeu até agora e nada sabemos”, afirmou, em conferência de imprensa.

“A partir deste momento, iremos agir judicialmente contra todos os que ponham em causa o nome do Benfica, sejam administradores, jornalistas. Não iremos perdoar a ninguém. Acabou a paródia à conta do Benfica”, avisou, anunciando a constituição de um “gabinete de crise” montado para responder a esta situação e que estará em funcionamento desde o início desta semana.

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