O desafio da ecologia, tal como hoje se coloca a todos os seres vivos, obriga-nos a pensar no fim da espécie humana . O tema do suicídio da humanidade não é de agora, mas hoje parece evidente uma consciência cada vez mais aguda de que ou arrepiamos caminho ou não há retorno. Falo de tudo: clima, recursos naturais, alimentação, doenças, hábitos de vida, etc..

Há semanas, Aurelian Barrau, um astrofísico francês preocupado com a catástrofe ambiental a que assistimos, foi acusado de “ecofascista”. Ecofascista?! Por ter defendido que a humanidade só se salva com medidas coercivas e repressivas impostas pelos governos? Medidas que afectarão a nossa liberdade e reduzirão os nossos direitos.

Como já acontece mas provavelmente a uma escala muito maior. Por exemplo, restrições nas viagens de avião ou limitações no consumo de carne. Estas medidas são impopulares. A opinião pública (e alguma opinião publicada) está e estará contra elas. Significam restrições às liberdades que temos por intocáveis.

Mas ocorre perguntar: porque haveremos de ter a liberdade de agredir o planeta? E que sentido faz abusarmos hoje das liberdades de circular ou de consumir para condenar à morte as gerações futuras? Como algures li: o asteróide somos nós! Tudo isto a propósito (ou a despropósito) da fragilidade do poder político para tomar decisões impopulares. Um pouco por todo o mundo assim é.

O problema resulta da natureza do poder político tal como ele se concebe em democracia, permanentemente amarrado a uma equívoca concepção acerca da legitimidade de exercício desse mesmo poder. Nem sempre essa legitimidade alcança o bem comum quando se trata de projectá-lo para as gerações futuras.

As preocupações dos governos são quase sempre ditadas pelo critério da popularidade na satisfação de necessidades imediatas e mediatas. E como estão permanentemente pressionados pelos grupos de interesses, pelas suas clientelas políticas e pelo acto eleitoral mais próximo, nem pensar em restringir ou limitar direitos, mesmo quando tal se revela  a única solução para sobrevivermos.

Até porque, quando algum raro governante o faz, ainda que fundamentadamente em ordem a garantir o futuro, há sempre um Tribunal Constitucional que o proíbe, interpretando a Constituição de uma forma irrealista e absurda.

Eis a razão pela qual é quase sempre estéril a discussão sobre o papel do Estado entre a esquerda intervencionista e a direita liberal quando se trata de pôr em prática medidas impopulares. A verdade é que só um poder desesperado e sem alternativa pode ter a coragem de as propor e aplicar. Mas aí já será tarde. Por isso, os maiores inimigos da ecologia (e em certo sentido da nossa existência enquanto espécie) são o populismo (por vezes mascarado de eleitoralismo) e o nacionalismo.

Se imaginássemos um único governo mundial com autoridade sobre todo o planeta com governantes sorteados à maneira da Florença renascentista, talvez se pudessem aplicar medidas necessárias, urgentes e impopulares. Ficção científica dirão alguns. Ecofascista dirão os restantes.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.