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Economia chinesa desacelera ao tentar reduzir nível de endividamento

O ritmo de recuperação da economia chinesa no período pós-pandemia está a abrandar, numa altura em que Pequim tenta reduzir a dívida corporativa, sobretudo no imobiliário, o veículo de investimento favorito das famílias chinesas.
1 Novembro 2021, 10h38

Nos últimos dez anos, a liderança chinesa preconizou um modelo económico assente no consumo interno, em detrimento das exportações e construção, mas, face a qualquer sinal de desaceleração, Pequim voltou a estimular o crescimento com mais obras e empréstimos.

Finalmente, o Governo do Presidente Xi Jinping está a enfrentar a raiz do problema ao reduzir a alavancagem no setor imobiliário, que sustenta milhões de empregos.

Isto está a provocar ondas de choque na economia do país. Empresas e famílias estão nervosas com a queda nas vendas dos imóveis e no setor da construção, levando ao abrandamento do consumo doméstico.

“Muitos clientes querem agora esperar para ver”, disse Liang Qiming, agente imobiliário em Nanchang, capital da província de Jiangxi, que prosperou com base na construção de imóveis.

A China tornou-se a fábrica do mundo, nos últimos anos, mas o maior motor de crescimento económico foi um frenesim de construção que descolou a partir do final da década de 1990.

Imobiliárias e governos locais contrariam biliões de dólares em divida para erguer novos apartamentos, torres de escritórios, centros comerciais, pontes e linhas ferroviárias.

O Governo de Xi parece agora disposto a aceitar uma desaceleração económica politicamente dolorosa para reduzir a dívida e atingir a meta de longo prazo de crescimento autossustentável e mais estável.

Pequim “não quer crescimento económico a todo o custo, seguido pela provável ou inevitável quebra do mercado financeiro”, disse Robert Carnell, chefe de pesquisa para a Ásia da empresa de serviços financeiros ING.

Os mercados financeiros estão preocupados com a possibilidade de um dos maiores construtores do país, o Evergrande Group, entrar em colapso, face à falta de liquidez e uma dívida de, pelo menos dois, biliões de yuans (270 mil milhões de euros).

Economistas dizem que Pequim quer garantir que as famílias recebem os apartamentos que compraram à Evergrande antes de estarem finalizados, mas que estaria a enviar a mensagem errada se salvasse a empresa.

A Evergrande é uma “limpeza preventiva”, disse Carnell.

A China recuperou da pandemia do coronavírus antes dos Estados Unidos, Europa ou Japão, mas o ritmo de crescimento económico está agora a desacelerar.

Deprimida pela queda na construção, a economia expandiu 4,9%, em relação ao ano anterior, no terceiro trimestre do ano.

Trata-se de uma taxa muito inferior face ao crescimento homólogo de 7,9% atingido no trimestre anterior.

Face ao período entre março e junho – a forma como as outras grandes economias são medidas – o crescimento nos três meses encerrados em setembro fixou-se em 0,2%, um dos mais fracos dos últimos dez anos.

As vendas de imóveis caíram 32%, em setembro, em relação ao ano anterior.

Os compradores foram desencorajados pelas restrições aos empréstimos hipotecários e pela ansiedade sobre a possibilidade de as imobiliárias falharem a entrega de apartamentos pagos antecipadamente. Isto significa menos gastos com móveis e eletrodomésticos também.

O crescimento este trimestre pode cair para 3%, em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com a instituição financeira japonesa Nomura.

O Bank of America cortou também a sua previsão para o ano inteiro de 8% para 7,7%. Para o próximo ano, o banco norte-americano reduziu a previsão 5,3% para 4%.

O rácio da dívida das empresas, famílias e Estado subiu para quase o equivalente a três vezes a produção económica anual, no ano passado — um valor considerado excessivo para um país de renda média.

Xi afirmou as suas prioridades durante uma reunião de planeamento em agosto, apelando ao “desenvolvimento de alta qualidade” para “evitar grandes riscos financeiros”, de acordo com a agência noticiosa oficial Xinhua.

“A China está a passar por uma transformação do modelo de crescimento impulsionado por investimentos cegos para um crescimento de alta qualidade”, disse o economista chinês Zuo Xiaolei.

Os reguladores reforçaram o controlo sobre o uso de dívida pelas empresas de imobiliário no ano passado. Centenas tinham já falido após outras restrições impostas desde 2017.

“O risco de uma desaceleração mais acentuada na atividade imobiliária não pode ser descartado”, apontou Tommy Wu, da consultora Oxford Economics, num relatório.

A economia enfrenta também obstáculos devido ao racionamento de energia imposto nas principais províncias manufatureiras do país, visando atender às metas oficiais de eficiência.

As vendas de automóveis caíram 16,5%, em setembro, face ao mesmo mês do ano anterior, de acordo com a Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis.

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