Na famosa experiência teórica do “gato de Schrödinger”, a física quântica diz-nos que o animal pode estar vivo e morto ao mesmo tempo! Além disso, para se ter a certeza da sua condição, é necessário provocar uma interferência que lhe provocaria uma morte certa.
Por se tratar de algo muito próximo a um paradoxo, é difícil interiorizar as consequências desta experiência e há muito que procuro transpor o “gato” para outros exemplos.
A situação da economia portuguesa, nomeadamente de muitas famílias e empresas, parece ser um “gato de Schrödinger”. Segundo os dados do Banco de Portugal, 32% dos empréstimos a empresas (24,4 mil milhões de euros) e 17% dos empréstimos a particulares estavam em moratória, a proporção mais elevada em toda a União Europeia. Por outro lado, as empresas estão a beneficiar de linhas de crédito com custos muito baixos, garantidas pelo Estado a 80%, e de várias medidas de apoio à manutenção do emprego.
É verdade que, mesmo afetadas pela pandemia, muitas empresas e famílias continuam de boa saúde económica e financeira e estão apenas a aproveitar estas medidas para robustecer a sua posição. Mas é quase certa a existência de bastantes casos em que as medidas apenas estão a adiar falências e incumprimentos.
E é aqui que aparece o “gato de Schrödinger”: há certamente muitas empresas e empregos que já estão destruídos só que ainda não sabemos. São mortos-vivos. E, como na experiência, para saber se o gato ainda está vivo, temos de abrir a caixa – ou seja, retirar as medidas – provocando imediatamente a sua morte. Saber quando se vai “abrir a caixa” e quem vai pagar esta “experiência” são duas perguntas cruciais para os próximos anos.