As férias de verão são um momento de pausa, necessário e merecido por todos nós, permitindo recargar energias para um novo ano laboral. Mas, ainda assim, a vida continua, a observação da realidade permanece e as reflexões irrompem.

O meu período de férias de este ano foi passado na belíssima costa alentejana e o correr dos dias foram pintalgados com pequenas “surpresas”, de que relato apenas três. A primeira surge quando, deslocando-me numa pequena rua da povoação, observo duas lojas de coisas várias, ao lado uma da outra, uma fechada e outra aberta. Entro na loja aberta e questiono quem está ao balcão, se por acaso sabe o horário da loja fechada. A resposta foi dada com grande prontidão: “não sei, abre quando lhe apetece, sem horário”.

Um pouco mais à frente dirijo-me ao único supermercado existente, para comprar os bens de que carecia e quase que dou com o estabelecimento fechado. Fecha das 13:00h às 15:00h. Continuo pela vila, o dia não está grande coisa, e uma refeição num restaurante local afigura-se ser um bom momento para disfrutar destes dias de descanso. Surge a terceira “surpresa”: confronto-me com vários restaurantes, todos eles fechados à segunda-feira.

Para além do pequeno transtorno que senti nesta manhã, mas que não afetou as minhas férias estivais numa vila da costa alentejana, vários pensamentos me assolaram a mente. Uma loja que abre quando lhe apetece não parece partilhar de um bom modelo de negócio e de gestão, restaurantes a fecharem todos num mesmo dia da semana, não parece também ser uma decisão de gestão muito gizada. Será que os seus proprietários não se podem articular e fechar para o descanso semanal em dias diferentes e, até, será que não deviam manter-se abertos todos os dias da semana, recrutando mais trabalhadores, sabendo que há sazonalidade no negócio e o verão é uma época para realizar receitas adicionais?

Um supermercado, em situação de monopólio geográfico, não maximiza o bem-estar dos consumidores. Dá-se ao luxo de fechar durante duas horas para almoço, e praticar preços muito acima dos mercados a que estamos acostumados na nossa residência habitual. Não deveríamos esperar que potenciais entrantes (outras empresas) se estabelecessem neste mercado, aproveitassem a existência de lucros, que a teoria económica apelida de lucros anormais, tornando o mercado mais competitivo, tendo um efeito positivo sobre os preços e sobre os níveis de bem-estar?

Continuei nos meus pensamentos e, sem carater científico e desprovida de qualquer estudo empírico, fundamentado numa amostra de adequada dimensão, generalizei este comportamento ao país. Parece haver uma excessiva iliteracia nos pequenos empresários, em matéria de princípios de gestão e de aproveitamento de oportunidades de negócio e, um país onde as pequenas e médias empresas representam a esmagadora maioria do tecido empresarial, a multiplicação deste comportamento por parte das empresas tem custos elevados para a economia, limitando, muito provavelmente, que o país cresça de forma significativa, como todos desejamos.

Episódios como estes, mais comuns do que o desejável, dão argumentos plausíveis para o crescimento modesto do país. Ações de formação em gestão para pequenos e médios empresários, surgem como uma necessidade da economia portuguesa.

A autora assina esta semana a coluna “Pensar a Economia”, uma parceria editorial JE | Ordem dos Economistas.