Na passada terça-feira, realizou-se no Salão Nobre do Instituto Superior Técnico, uma sessão de homenagem a Luís Mira Amaral, com a atribuição do título de “Economista Emérito”, pela Ordem dos Economistas. A esta homenagem associou-se, também, a Ordem dos Engenheiros, representada pelo seu Bastonário o Eng.º Fernando de Almeida Santos, com a entrega de uma placa alusiva, assinada pelos dois Bastonários. Contou ainda com a presença do Senhor Presidente da Assembleia da República, Dr. José Pedro Aguiar-Branco e do Senhor Ministro da Economia, Dr. Pedro Reis, que encerrou o evento.
A grande questão em debate, e que serviu de mote às diversas intervenções, foi a de saber quais os caminhos que a economia portuguesa deve seguir, num contexto de profundas transformações da economia global e, sobretudo, no contexto dos próprios desafios que se colocam à economia europeia, confrontada com crescimento medíocre, recessão na Alemanha, dificuldades orçamentais em França, gap tecnológico face aos Estados Unidos e à China, vulnerabilidades acentuadas no plano energético e no abastecimento de matérias-primas e outros elementos essenciais, para já não falar das tensões sociais crescentes, da guerra à porta e, agora, da eleição de Donald Trump.
Luís Mira Amaral (LMA) é engenheiro eletrotécnico de formação, tendo posteriormente obtido o grau de mestre em economia pela Universidade Nova de Lisboa, com uma dissertação significativamente intitulada “Elasticidade Procura-Preço dos combustíveis em Portugal”, a que se seguiram pós-graduações na Universidade de Stanford e no INSEAD. Tem vários trabalhos publicados, nos domínios da economia da energia, economia industrial e da gestão, sendo ainda um interventor de referência na comunicação social sobre questões relacionadas com estas matérias.
Foi Ministro do Trabalho e Segurança Social (1985-87) e depois Ministro da Indústria e Energia (1987-95). E foi responsável pelo lançamento dos PEDIP I e II, do Relatório Porter, da AutoEuropa, entre outros projetos, que tiveram impacto muito significativo na estrutura industrial e na economia do País. É membro das duas Ordens Profissionais, integrando os respetivos órgãos sociais.
Engenheiro-Economista, ou Economista-Engenheiro, consoante as perspetivas, importa dizer que LMA se insere numa tradição que terá sido iniciada, ainda no século XIX, com Fontes Pereira de Melo, Engenheiro formado na Escola do Exército, enquanto ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria. Um ministério por ele criado em 1852, e que teve um papel fundamental no desenvolvimento infraestrutural, económico e industrial do País, no quadro da chamada Regeneração.
Uma linha que será retomada, já na segunda metade do século XX por José Ferreira Dias, igualmente Engenheiro Eletrotécnico, Professor no Técnico, Bastonário da Ordem dos Engenheiros, entre 1945 e 1947, primeiro como Subsecretário de Estado do Comércio e Indústria, nos anos 40, e depois, como Ministro da Economia, entre 1954 e 1962 e que, nestas responsabilidades, teve também um papel decisivo no desenvolvimento industrial e económico, particularmente através da infraestruturação elétrica do País de que foi grande impulsionador.
Portugal precisa de um novo impulso, no âmbito desta tradição de convergência entre Economistas e Engenheiros. De juntar esforços no sentido de introduzir de novo uma perspetiva estratégica na política industrial do País, orientada para o impulso tecnológico, o reforço estrutural e a produção de valor acrescentado.