Economistas sondados pela Lusa elogiam o mandato de Mario Draghi na liderança do Banco Central Europeu (BCE), tal qual comandante de um navio que evitou o naufrágio e “passou o Cabo das Tormentas”, mas também enquanto estadista e construtor de consensos.
João Duque, professor do ISEG – Lisbon School of Economics & Management, afirmou, em declarações à Lusa, que “Draghi enfrentou um desafio nunca antes feito a ninguém e superou-o”.
“Estivemos como o Titanic em vias de chocar com o iceberg, mas, ao contrário do que sucedeu ao malfadado navio, este conseguiu evitar o obstáculo. E a dimensão do navio e os danos materiais seriam colossalmente maiores”, considerou o economista, acrescentando que, “tendo em conta a adversidade, Draghi e a sua equipa passaram o Cabo das Tormentas com sucesso”.
Contudo, João Duque alertou que “a tempestade ainda não passou e novas nuvens se perscrutam no céu, mas a grande tempestade foi ultrapassada”.
Também Ricardo Cabral, professor da Universidade da Madeira, fez “um balanço globalmente muito positivo” dos oito anos de Mario Draghi na liderança do Banco Central Europeu (BCE), considerando que “foi o melhor presidente na ainda curta história” da instituição.
“Em minha opinião, um dos poucos estadistas que a zona euro teve na última década, sem dúvida o mais brilhante dos decisores europeus, numa fase da história em que a grande maioria desses decisores não primou pela sua clarividência”, frisou o economista à Lusa, adiantando, contudo, que Draghi “teria sido brilhante mesmo se os restantes decisores europeus tivessem sido substantivamente melhores”.
No entender de Ricardo Cabral, o presidente do BCE demonstrou “um elevado grau de conhecimento e de domínio técnico sobre o detalhe e as nuances da política monetária”, assim como “grande habilidade para construir consensos (políticos) dentro e fora do Conselho do BCE, não obstante a oposição pouco construtiva do presidente do Bundesbank, Jens Weidmann”.
O economista frisou ainda que Mario Draghi “foi capaz de convencer os restantes decisores do BCE das virtudes das suas propostas” e teve “a perspicácia e a capacidade de se distanciar de uma leitura estrita da gestão da política monetária e dos problemas de gestão do dia-a-dia para decidir, defender e promover as medidas necessárias para salvar o euro”.
Joaquim Miranda Sarmento, professor de Finanças do ISEG, salientou, por seu turno, que “o mandato de Draghi ocorreu no período mais difícil da história do euro e da própria União Europeia” e frisou que “a atuação de Draghi foi essencial quando em 2012 disse que, para salvar o euro, o BCE faria “whatever it takes” [o que fosse preciso]”.
No entanto, o economista considerou que, desde 2015, o atual presidente do BCE levou a política monetária do euro para uma área desconhecida, com a política do ‘Quantitative Easing’ (programa alargado de compra de ativos lançado em 2015 para estimular a economia).
“É impossível saber o contra factual de outro tipo de atuação. Mas no final creio que o mandato de Draghi é francamente positivo, embora me preocupe este excesso de liquidez e as taxas de juro zero durante muito tempo e em maturidades muito longas”, partilhou Joaquim Miranda Sarmento, salientando que “um dos riscos de uma futura crise vem exatamente desta atuação não convencional dos bancos centrais”.
Luís Campos e Cunha, professor na Nova School of Business and Economics e antigo ministro das Finanças, também afirmou, em declarações por escrito à Lusa, que “Mario Draghi foi um excelente presidente do BCE”.
“Conheci-o quando ele foi ‘chairman’ do Comité Económico e Financeiro há cerca de 20 anos. E devo dizer que o seu desempenho no BCE foi, para mim, uma agradável surpresa”, partilhou o antigo governante.
No entender de Ricardo Reis, professor na London School of Economics, “Mario Draghi salvou o euro com o seu discurso e as suas ações e políticas decididas entre 2012 e 2014”.
Contudo, no entender de Ricardo Cabral, o balanço de outras das decisões e posições de Mario Draghi é negativo, “embora em parte compreensível devido à forma como são adotadas as decisões na zona euro”.
Segundo o professor da Universidade da Madeira, “para levar a sua dama a bom porto”, ou seja, para implementar o programa de expansão quantitativa, “Mario Draghi terá decidido apoiar outras políticas económicas nocivas, em torno das quais existia um consenso das autoridades europeias, nomeadamente em relação à política de austeridade e ao Pacto Orçamental”.
E o economista salientou ainda que o presidente do BCE foi “um defensor da união bancária”, tendo dado “consentimento a casos concretos da aplicação de medidas de resolução a bancos de países periféricos, que tiveram efeitos muito negativos nas economias desses países, nomeadamente na economia portuguesa”.
Mario Draghi está em Portugal a participar na sua última edição do Fórum do BCE enquanto presidente da instituição, sob o mote dos 20 anos da zona euro.
O mandato de Draghi termina em 31 de outubro e os nomes mais referidos para lhe suceder incluem o governador do Banco de França, François Villeroy de Galhau, o membro da Comissão Executiva do BCE, Benoît Coeuré, o governador do Banco da Finlândia, Olli Rehn, e o seu antecessor Erkki Liikanen, e o presidente do Bundesbank (o banco central alemão), Jens Weidmann.
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