Escrevo a propósito das recentes previsões do Banco de Portugal, liderado pelo ex-ministro das finanças, para 2021 e 2022, confiando numa retoma económica para níveis da pré-crise já em 2022.
Assim, teríamos um crescimento previsto de 3,9% já este ano. Ora, comparando com o miserável e pandémico ano de 2020, é um crescimento desolador. Em 2022 prevê-se uma subida do PIB de 5,2%, parecendo melhorar a anterior expectativa de crescimento de 4,5%. Esta aparência é rapidamente dissipada pela menor performance real em 2021 face à previsão e portanto o crescimento em 2022 melhora apenas na aparência dos números percentuais e não no crescimento real da nossa economia.
E mesmo estes números previsionais são susceptíveis de, como agora é moda, serem sujeitos a um fact-checking da realidade económica actual.
E este fact-checking é demolidor dessas previsões, senão vejamos:
Os dados da pandemia, apesar da eficiente e militarizada vacinação, agravam-se, com todos os efeitos “psicológicos” (na diminuição da demanda de bens e serviços et pour cause na oferta) que a mesma produz na economia (e não falamos do possível confinamento na zona de Lisboa e Vale do Tejo).
O sector económico mais fustigado pela pandemia, o sector da hotelaria e restauração, não irá recuperar em 2021 e o estrangulamento da tesouraria, pese embora os apoios estatais, permanece, sector de que a economia nacional depende em quase 20%.
O sector dos transportes, excluindo a logística, incluindo neste o transporte rodoviário, ferroviário e metroviário, com o teletrabalho e o medo do vírus, e o sector da aviação, com a gestão caótica de Pedro Nuno Santos, encontra-se numa crise sem precedentes.
O sector industrial, de bens transaccionáveis, sofre com a disrupção das cadeias logísticas e para dar um exemplo do maior exportador nacional, a Autoeuropa, que se queixava de falta de aprovisionamentos essenciais e da acentuada quebra do volume de negócios, com um impacto directo na balança internacional de pagamentos.
Pessoalmente estou convencido que o mercado da construção e do imobiliário vive numa bolha, porventura numa canalização conjuntural das poupanças e do excesso de liquidez na economia que, de um momento para o outro, pode rebentar. Como alguém costuma dizer, é raro mas acontece muito…
Por fim, o sector bancário, excluindo a banca espanhola, irá sofrer com o fim das moratórias, com o excesso de endividamento das pequenas e médias empresas e a exígua capitalização das mesmas que agravarão os portfolios de “non-performing exposures”. E, assim, veremos uma nova crise bancária com efeitos sistémicos em toda a economia dificilmente previsíveis.
O desemprego a aumentar, as insolvências em crescimento e sem uma planificação do Estado para a economia e para as empresas privadas, de que é exemplo flagrante o PRR, sobretudo canalizado para o sector público, betão e digitalização da administração pública, fazem com que as supra mencionadas previsões pequem por excessivo optimismo.
E aqui está o erro colossal da idiossincrasia nacional da bazuca europeia, somente explicado pelo preconceito deste governo de que tudo deve depender do Estado, como a pandemia teria vindo, na sua tese, demonstrar aos liberais!
A bazuca deveria estar apontada ao sector privado, às empresas, à criação de riqueza e de emprego, de molde a que a riqueza desse modo gerada pudesse ser redistribuída por via dos impostos.
Não, vai ser apontada ao crescimento do funcionalismo público, das obras faraónicas sem prévia análise do custo-benefício, de novas e inúteis estradas e pontes, das comemorações plurianuais lideradas por um qualquer comissário político, à criação de “jobs for the boys” à luz da digitalização da função pública e ao nepotismo crónico desta administração. Como liberal convicto temo o pior!
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.