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Enoturismo, na senda de Baco de norte a sul do país

Na idade maior do enoturismo em Portugal, viajar cá dentro é, também, surpreender-se com a qualidade dos vinhos que se produzem em território nacional. Amplie os horizontes e aponte a outras paragens que não a praia. Há prazeres tão ou mais memoráveis do que ir a banhos.
25 Julho 2023, 07h30

Tudo começa na vinha. Em socalcos mais ou menos acentuados, bafejados pelos ventos do Atlântico, uns, pela brisa de rios, outros, pelas horas de sol, todos. Pelo carinho e paixão de quem os produz e anseia ver nascer das uvas néctares que vão aconchegar momentos de convívio ou de pura contemplação.

De norte a sul, as rotas de vinhos e programas de enoturismo são mais que muitos, pelo que qualquer lista de sugestões peca por não abarcar tudo e todos os que se dedicam a transformar o mais pequeno num grande momento. Do Alto Douro Vinhateiro a São Bartolomeu de Messines, no Algarve, é tempo de deixar os sentidos viajar.

A Quinta do Bomfim, localizada em pleno Alto Douro Vinhateiro, a primeira região demarcada no mundo a ser regulamentada, por ordem do Marquês de Pombal, é propriedade da família Symington, presente há cinco gerações na região. As visitas à Quinta do Bonfim, para além da adega e do antigo armazém de envelhecimento, permitem passeios pelas vinhas e por grande parte dos terrenos. A quinta dispõe de uma sala de provas e de um terraço exterior com vistas assombrosas sobre o Douro e as suas vinhas, onde os visitantes podem degustar os vinhos do Porto e Douro DOC produzidos pela família.

Quinta de Santa Eufémia é um espelho da mui antiga história do Vale do Douro, dos vestígios arqueológicos da era romana, aos marcos pombalinos da primeira demarcação, sem esquecer a adega que conta a história da quinta em vinhos. Foi fundada em 1864 por Bernardo Rodrigues de Carvalho, e está nas mãos da quarta geração desta família duriense, dedicada à produção e comercialização de vinhos do Porto, vinhos de mesa e azeite. Nos mais de 45 hectares da Quinta de Santa Eufémia, produzem-se uvas das mais ricas castas, pisadas à moda antiga em lagares de granito. Marque uma visita e deleite-se com as provas de vinhos do Porto Vintage, LBV, Colheita e 10 Anos Branco.

Quinta de Ervamoira fica no Douro Superior, no Vale do Côa, e foi a primeira quinta vinhateira a usufruir do título de Património da Humanidade quando decidiu proteger 15 km das gravuras rupestres paleolíticas do Parque Arqueológico do Vale do Côa, que recebeu da UNESCO a classificação de Património da Humanidade. Outra das suas particularidades é a vinha vertical, a primeira e única quinta ancestral a ter apostado nesta abordagem. Em 1997, inaugurou o Museu de Ervamoira, onde pode ficar a saber mais sobre a longa e rica história da região. A visita, conduzida por guia especializado, culmina numa profusa prova de vinhos do Douro e do Porto da Casa Ramos Pinto.

A Quinta do Encontro, espaço vinícola na Bairrada, que cruza a arquitetura de design e o culto do vinho, pretende proporcionar precisamente o que lhes está no nome: bons encontros. Um convite aos sentidos, quer pelo projeto de design da Global Wines e do traço do arquiteto Pedro Mateus, quer pela gastronomia e, claro, pela vertente de enoturismo. A 30 Km de Coimbra e a 40Km de Aveiro, tanto a adega como a cave são visitáveis, bem como parte do original edifício que lhes serve de abrigo.

Se Pedro Mateus já surpreendera com a adega na Bairrada, na AdegaMãe, perto de Torres Vedras, o que capta o olhar quando se chega à Quinta da Archeira é o retângulo semienterrado que funciona como um miradouro, com vistas desafogadas para a vinha e as serras da Archeira e do Socorro. Dos vários programas de enoturismo da AdegaMãe, destaca-se o brunch vínico, onde poderá provar os vinhos aqui produzidos, marcados pela proximidade do mar e pela influência do clima atlântico.

A serra aqui também serve de pano de fundo, mais concretamente a Serra de Montejunto, a 50 km de Lisboa, entre Vilar e Martim Joanes, onde vai encontrar a Quinta do Gradil, uma das mais antigas, senão a mais antiga, herdade do concelho do Cadaval, que chegou a fazer parte do legado do Marquês de Pombal. Entre a serra e o mar, ocupa uma área de 200 hectares dos quais 120 plantados com vinha, não só tira partido da influência atlântica, fator determinante para o equilíbrio ácido e frescura dos seus vinhos, como usufrui de longas horas de sol, fundamentais para a boa maturação das uvas. As visitas têm início nas vinhas, passam pela adega e espólio patrimonial da Quinta do Gradil, e terminam na sala de provas e loja de vinhos.

Na região dos Vinhos do Tejo, destaque para a Tejo Wine Route 118, produto de enoturismo criado em 2021 e que percorre uma rota traçada em torno dos cerca de 150 km da Estrada Nacional 118, na margem esquerda do rio e que percorre sete concelhos, de Abrantes a Benavente, passando por Constância, Chamusca, Alpiarça, Almeirim e Salvaterra de Magos. Uma proposta que reúne 14 produtores, de portas abertas a todos os interessados em conhecer as suas adegas e instalações, e, claro, fazer provas dos seus vinhos.

O drama da escolha é um desafio ultrapassável. É uma questão de explorar as propostas na Tejo Wine Route 118, mas deixamos uma sugestão que em nada diminui o interesse dos demais produtores. Falamos da Quinta do Casal Branco, fundada em 1775, numa propriedade que durante quatro séculos foi coutada real. Dos 1.100 hectares, 140 hectares são ocupados por vinha em solos de charneca. Castas nacionais – Fernão Pires, Castelão, Touriga Franca e Touriga Nacional – coabitam com as mais recentemente introduzidas Syrah, Merlot, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot e Alicante Bouschet.

A Ervideira é uma adega portuguesa, cuja produção de vinho remonta a 1880. Atualmente, é gerida pela quarta e quinta geração de produtores da família Leal da Costa. Conta com um total de 117 hectares de vinha, distribuídos pela propriedade da família, na Vidigueira (Monte da Ribeira) e em Reguengos de Monsaraz (Herdadinha, Vendinha), e na vertente enoturismo os visitantes podem escolher uma das oito experiências. A visita é informativa e convida a conhecer a essência da Ervideira, mas cada prova é feita à medida e de acordo com os gostos e preferências de cada um.

Na Herdade do Barranco do Vale, em Campilhos, a dez minutos de São Bartolomeu de Messines, estende-se por cerca de 100 hectares de grande beleza natural, onde a vinha tem como vizinhos alfarrobeiras, oliveiras, sobreiros, pinheiros e medronheiros. A rainha da herdade é a Negra Mole, casta algarvia que esteve à beira da extinção nos anos 1980 e à qual aqui se dedicam 70 hectares de solo xistoso. A Herdade do Barranco do Vale é um dos cerca de 20 produtores que integram a rota de enoturismo criada para desmistificar a má fama da produção algarvia. Não pense duas vezes e experimente os vinhos produzidos pelos descendentes de Ramiro da Graça Cabrita, o fundador que hoje inspira o futuro da herdade.

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