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EDP procura noiva para ganhar escala para enfrentar OPAs hostis

A fusão com a britânica SSE permitiria à EDP ganhar mais escala europeia e mundial e não estar tão sujeita a ofertas hostis de elétricas europeias maiores que desejam colar-se ao sucesso internacional da companhia portuguesa.
1º EDP: A empresa liderada por Miguel Stilwell mantém a liderança das marcas valiosas, com um valor de mercado de 2,4 mil milhões de euros, apesar de ter desvalorizado 4%.
16 Outubro 2024, 07h30

São menos de 100 km de distância entre a Universidade de Strathclyde em Glasgow e a sede da Scottish and Southern Energy (SSE) em Perth, também na Escócia. A primeira localização foi onde o CEO da EDP tirou o mestrado em Engenharia Mecânica (com “distinção”). A segunda é a sede da empresa britânica com a qual a energética portuguesa tentou fundir-se este ano, mas sem sucesso.

A EDP apresentou a proposta de fusão antes do verão deste ano, com o objetivo de criar uma elétrica europeia mais forte, evitando ofertas públicas de aquisição (OPA) agressivas de companhias europeias maiores, com operações maiores fruto de um grande mercado interno e regional, mas sem o sucesso internacional da companhia portuguesa, que considera os EUA uma segunda casa (e lucrar em dólares compensa mais do que em reais, como no caso da operação brasileira).
Todos querem dançar com a EDP neste momento, pois é dona da 71% da EDP Renováveis (15 mil milhões de market cap), a quarta maior produtora mundial de energia renovável, presente em 28 países na Europa, Ásia e com um pé bem assente no valioso mercado norte-americano e em contínuo desenvolvimento.
É certo que o facto de a China Three Gorges deter 21% do grupo EDP serve para travar OPAs mais aventureiras. Mas resta saber se o abrandamento económico chinês terá impacto nas participações no estrangeiro de empresas detidas pela República Popular da China. Ou se esta participação chinesa ameaça criar entraves como aconteceu por altura da OPA da CTG para controlar todo o capital da EDP (operação que morreu na praia, depois do chumbo pela Casa Branca de Donald Trump).

Por capitalização bolsista, a EDP vale 16 mil milhões de euros e a SSE vale 28 mil milhões. Juntas permitiriam criar um gigante a valer 44 mil milhões de euros. Ainda ficariam abaixo da gigante espanhola Iberdrola (85 mil milhões de euros de market cap), da britânica National Grid (60 mil milhões) ou da italiana Enel (58 mil milhões).

No entanto, já ficariam acima da alemã E.ON (30 mil milhões de euros), da francesa Engie (28 mil milhões), da alemã RWE (20 mil milhões), da francesa Veolia (20 mil milhões) ou da italiana Terna (11 mil milhões), segundo os dados do MSCI Europe Utilities Index.

No caso de uma OPA, uma oferta da Iberdrola ou da Enel (detém a espanhola Endesa) enfrentaria mais problemas ao nível da concorrência devido ao espaço partilhado no mercado ibérico.

A companhia portuguesa conta com um total de 29 gigawatts de capacidade instalada. Até 2026, prevê investir 17 mil milhões de euros para instalar mais 10 gigawatts. Em 2023, atingiu um EBITDA anual na casa dos cinco mil milhões de euros, com um resultado líquido recorrente na casa dos 1.300 milhões de euros.

Já a SSE conta com 4,5 gigas de capacidade renovável, tendo produzido um total de 12 GWh de energia renovável no ano fiscal de 2023. A companhia está a construir 2,8 gigas e conta com um pipeline de 17 gigawatts, sendo a maioria eólica offshore (6,5 gigas), seguida de eólica onshore (2,7 gigas) e baterias e solar (2 gigas). E conta também com 6,2 gigas de capacidade térmica, dividida entre gás natural e combustíveis fósseis. Em 2023, atingiu um EBITDA de 3.300 milhões de libras, com os lucros operacionais a atingirem os 2.400 milhões de libras. O seu negócio está concentrado no Reino Unido e Irlanda.

A proposta de fusão acabou por ser rejeitada pela SSE, sediada em Perth, na Escócia, que prefere manter o seu trajeto como empresa independente. As conversações lideradas pelo CEO da EDP Miguel Stilwell d’Andrade arrancaram em maio. Nos encontros chegaram a participar o CEO da SSE Alistair Philips-Davies. Sem sucesso, as negociações terminaram em junho. A “Reuters” diz que não é claro neste momento se a EDP irá voltar à carga.
O mercado de fusões e aquisições no sector de energia anda ao rubro este ano: mais 43% de negócios (853 operações) num total de 110 mil milhões de dólares (101 mil milhões de euros) até setembro, segundo dados da LSEG.

 

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