No seu primeiro dia de regresso à Casa Branca, Donald Trump decretou a sentença de morte ao sector eólico offshore nos EUA. Suspendeu a emissão de licenças e e ordenou a revisão de projetos aprovados.
A decisão deixou mais de 90% dos projetos eólicos marítimos planeados para os mares dos EUA em “sério risco”, num total de 60 gigawatts de capacidade, segundo a consultora Rystad.
Em consequência, a EDP Renováveis (EDPR) suspendeu o projeto Southcoast Wind, ao largo da costa do Massachusetts, o que deverá provocar um atraso de quatro anos. Com 2,4 gigas de potência, deveria iniciar a sua construção este ano e estar operacional em 2030, tendo assumido uma perda de 113 milhões de euros.
Depois de anunciar a suspensão a 26 de fevereiro, eis que esta semana chega a notícia de que a companhia liderada por Miguel Stilwell d’Andrade está a analisar se vende a sua participação na Ocean Winds, onde detém 50% com os restantes 50% a serem detidos pelos franceses da Engie.
A notícia foi revelada pela “Bloomberg” na quinta-feira que cita várias fontes anónimas. Questionada pelo JE, a EDP não comentou.
Nenhuma decisão final foi tomada e uma das possibilidades é vender apenas parte dos 50%. Uma possibilidade é vender a empresas de energia; outra, é vender a fundos de infraestruturas, segundo a agência noticiosa.
Donald Trump “acelerou a morte da indústria”, disse Artem Abrasov da Rystad ao “Financial Times”.
Até este ano foram investidos mais de 40 mil milhões de dólares no setor eólico offshore nos EUA, com mais de metade do capital investido a ter origem em empresas europeias.
“É prudente assumir um atraso de quatro anos. Obviamente que esse é o pior cenário possível”, disse o CEO da EDPR em chamada com analistas a 26 de fevereiro, acrescentando que o acordo de venda de energia (PPA) está “pronto a assinar” com um “bom preço”.
“O projeto está pronto a avançar, mas com tudo o que aconteceu com as ordens executivas decidimos ser mais prudentes”, acrescentou Miguel Stilwell d’Andrade na chamada.
Os projetos eólicos offshore são complexos e dispendiosos incluindo estruturas de suporte, aerogeradores e cabos submarinos para levar a eletricidade para terra. Depois, a manutenção é sempre complicada: apenas em condições estritas as embarcações podem sair dos portos pois os seguros são muito exigentes e não pagam se a ondulação for superior a X metros naquele dia, por exemplo.
Desde a eleição de Donald Trump que várias companhias suspenderam os seus projetos offshore, como a francesa TotalEnergies ou a dinamarquesa Orsted. Mas há mais empresas a suspender/cancelar projetos, incluindo a norueguesa Equinor, a petrolífera britânica BP, ou a Avangrid da espanhola Iberdrola.
A associação setorial a Oceantic Network criticou a decisão de Trump ao apontar que coloca em risco “25 mil milhões de dólares que tinham sido investidos em novos portos, embarcações e centros de produção”.
A EDPR anunciou que vai cortar no investimento em 25/26 e vender ativos em 2025 para fazer face aos prejuízos de 550 milhões registados em 2024, principalmente devido à saída da Colômbia, mas também com impacto dos EUA.
Além dos EUA, a Ocean Winds tem projetos no Reino Unido, França e Coreia do Sul.
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