A voz calma e serena de um homem gentil e de bem com a vida, ainda que esta lhe tenha trazido uma perda irreparável e a noção de estar “assustadoramente mais velho” nos tempos mais recentes, era o primeiro impacto com o ensaísta Eduardo Lourenço. Provavelmente o intelectual mais consensual de Portugal, nem que fosse pela desarmante confissão de que “nada mais sabia fazer além de pensar”, o autor de obras como “O Labirinto da Saudade” morreu aos 97 anos nesta terça-feira, precisamente no dia em que, de cara tapada por máscaras e abreviando a cerimónia para cumprir rigorosamente o recolher obrigatório, o país celebrou a restauração da independência.
Estar distante ao longo de décadas, fixando residência em 1975 na localidade francesa de Vence, perto de Nice, não impediu Eduardo Lourenço de se tornar o expoente da reflexão sobre Portugal e o ser português. Precisamente por isso, Marcelo Rebelo de Sousa, que fez questão de o escolher para o Conselho de Estado ao ser eleito Presidente da República, realçou na nota oficial em que assinalou a morte do “sábio amigo” que “poucos foram os ‘estrangeirados’ tão obsessivos na sua relação com os temas portugueses, com a cultura, identidade e mitologias portuguesas, com todos os seus bloqueios, mudanças e impasses”.
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