A educação formal, sabemos todos, é essencial para a progressão de um país num sentido positivo. Um maior bem-estar da população de uma dada sociedade, em geral, deverá ser o mote para que numa, perspectiva colectiva, o mundo vá melhorando. Parece certa esta argumentação, mas será que o é de facto?
Nos últimos anos, com o processo de integração europeia, a Polónia registou muitas mudanças ao nível social e institucional. Com uma população muito envelhecida, e com uma necessidade crescente de trabalhadores com elevadas capacidades técnicas, a Polónia, como muitos outros países do Velho Continente, debatia-se com este grande dilema: o que fazer perante tal cenário?
Sabendo que existem dimensões essenciais para o desenvolvimento económico de um país, de entre eles a literacia e o pensamento crítico orientado para a resolução de problemas por parte dos cidadãos, o país apostou na educação formal a partir de tenra idade, já que se sabe o quanto isso é decisivo no desenvolvimento de “melhores trabalhadores”.
Claro que esta argumentação de ser melhor individualmente para um bem comum, logo, colectivo tem algumas falácias, mas fiquemo-nos por estas simplificações. Na Polónia, o Estado, através de sucessivos executivos, percebeu que a preparação do futuro começa pelo providenciar a crianças e jovens os meios para desenvolverem as suas capacidades cognitivas e sócio-emocionais. Parece que resultou. Afinal os resultados do país no PISA – Program for International Student Assessment, prova-o e colocou-o num posicionamento idêntico ao da Finlândia ou da Alemanha, que normalmente estão em posições cimeiras.
Não vou aqui discutir o modelo educacional da Polónia, que ao ter uma forte divisão entre o, digamos, “currículo normal” e um mais “vocacional” (profissional), nos transporta para outras discussões sobre igualdade, mas ainda assim, talvez um dos maiores problemas que o país tenha ainda se mantenha aí, já que quem vai para o sistema vocacional deixa “muito a desejar” no que diz respeito ao desenvolvimento da leitura e aptidões matemáticas.
E digo problema porquê? Porque a Polónia é um daqueles países onde, nos últimos tempos, o crescimento de movimentos extremos mais nos deve preocupar. Claro que podemos pensar que estes jovens mais educados ainda não farão, todos eles, parte do universo de eleitores, mas, ainda assim, o que sabemos nós?
Sabemos que hoje em dia, a Polónia – que é um dos mais recentes Estados-membros da União Europeia (2004) – tem, de acordo com muitas análises académicas, um problema de polarização política muito forte. Mais. O país, imediatamente a seguir ao processo de integração, mostraria uma polarização diminuída, para depois aumentar imediatamente a seguir ao Tratado de Lisboa e à crise de há uma década, com a respectiva desaceleração no crescimento do Produto Interno Bruto.
Não posso avançar aqui com ligações causais, que há aspectos históricos de path dependency e até de vizinhança geográfica que não são neutros em relação a isto, mas importa refectir sobre os impactos (ou não) da educação formal (e qual?) no comportamento político dos cidadãos.
Teremos que ver como, na Europa, a educação e a polarização, e logo o extremismo, perecem nem sempre ser causa ou explicação uma da outra. A economia ainda tem um papel decisivo no que diz respeito à polarização, o que não surpreende. Ou, pensando melhor, talvez surpreenda.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.