Recentemente, li a história do Dr. Israel Paródia, o primeiro médico assumidamente cigano, por querer que o seu exemplo inspire muitos outros. Um caso notável de superação que deve ser propagado, pois a multiplicação de exemplos assim alimenta o sonho de um futuro mais justo e inclusivo.
A sua história mostra o poder transformador da educação e a força individual necessária para vencer as probabilidades em contexto adverso. Filho de feirantes, foi sempre um excelente aluno. Sem meios, contou com bolsa da Fundação Gulbenkian para seguir Medicina, um sonho aceso em criança, quando o avô lhe disse que ser médico era a melhor profissão do mundo, por permitir salvar vidas, após inquirido pelo curioso Israel. Com o apoio da família e um enorme esforço pessoal, Israel concretizou esse objetivo.
Portugal tem avançado na integração de comunidades vulneráveis, como os ciganos e os imigrantes, mas o progresso continua desigual. A educação é o melhor investimento de longo prazo que uma sociedade pode fazer. Mas, para surtir efeito, o acesso tem de ser real e o apoio contínuo. Não basta abrir portas; é preciso garantir que quem entra tenha caminho para subir.
A taxa de abandono escolar entre jovens ciganos continua elevada. Entre os imigrantes, os desafios passam por barreiras linguísticas, carências económicas e discriminação. Estes obstáculos não se vencem apenas com boas intenções, mas com políticas eficazes, escolas e universidades preparadas, apoio às famílias e uma cultura que valorize a educação como bem comum — não como privilégio.
A história de Israel mostra ingredientes essenciais do sucesso: um sonho inspirador, o suporte familiar, o apoio de uma bolsa e, claro, o mérito e esforço do próprio. É por isso essencial reforçar o papel do mecenato, mas sobretudo melhorar as bolsas de estudo públicas, democratizando ainda mais o Ensino Superior e multiplicando casos como este.
Há décadas que os economistas mostram o impacto da educação no crescimento, na redução das desigualdades e na coesão social. Mas há uma dimensão difícil de medir: a dignidade que nasce de se saber capaz. O Dr. Israel representa essa dignidade. É o retrato de alguém que, tendo tudo para desistir, insistiu. E que hoje, com a sua competência e exemplo, contribui para uma sociedade melhor, como sempre quis, inspirado pelo avô.
Se queremos um país mais coeso e próspero, temos de investir mais e melhor em educação — sobretudo onde ela ainda não chega em pleno.