“À pobreza faltam muitas coisas, à avidez falta tudo” (Públio Siro).

Covid-19: Norte de Portugal mais castigado – População menos educada, mais pobre, envelhecida e concentrada em lares”. Assim, passou no «Jornal das 8» da TVI, de 13/04. Esse polémico rodapé, que nem notícia é. Como gritaria Joacine Katar, com todas as letras soletradas: “é mentira!”. Comprovam-no os dados oficiais do INE, disponíveis ao público. Haja respeito e verdade! Não se eructem afirmações sem “ente” (= razão de ser): infetadas por outro vírus, também ele indecente e insolente.

Foi um momento de má informação, preconceito, deformação. Quiçá sem intenção de ferir, mas aconteceu: foi para o ar e manteve-se. E o jornalismo de proximidade faz-se sem descriminar, com positividade. Sem afastar o interesse público – de que é serviço –, a isenção e a objetividade. O canal – dito “independente” – já pediu desculpas pela “frase infeliz no ecrã”. Esteve bem, mas não chega: convém não repetir erros desta (des)ordem, que não são os primeiros. Sejam, oxalá, os últimos dessas “portofobias” (termo feliz de Rui Moreira). Mais: o Porto está no Norte, mas o Norte não é só Porto.

As reações indignadas nas redes sociais entendem-se, na medida em que quem é do Porto – concelho, metrópole e distrito – sente-o d’alma e coração. É como se alguém acusasse a sua esposa, o seu marido, os seus filhos. Não iríamos permitir. Defenderíamos os nossos. A pertença ao Porto é igual: identitária e comunitária. Como num casamento, é-lhe fiel. Sempre Porto: na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, todos os dias da nossa vida. Sendo, com os seus: um porto acolhedor, livre e protetor!

Contudo, distancio-me dessas competições e guerrilhas regionalistas. Já basta haver dissimetrias e desigualdades, nas regiões entre si. Não se propaguem mais! O combate atual é e deve ser nacional e transversal, à escala global. Somos todos Portugueses, cidadãos do mundo. Somos Portugal, pela tão proclamada coesão social e estatal. Ora em território continental ora na diáspora universal. Quando os OCS, de modo geral, informam diariamente sobre os números vigentes nos outros países não fazem essa conotação e diferenciação regional. Por que têm de levar à exaustão essa catalogação para Portugal?! Que importa?

O coronavírus veio de fora e entrou pela porta do Norte, com ou sem pronúncia (também, por aqui, começou este Reino Lusitano), como poderia ter entrado por outra região qualquer. E daí? Seremos piores por isso? Para quê dar tanta importância a números que nem sempre evidenciam a realidade exata? Seremos menos Portugal e Portugueses por isso? Não, claro que não.

Temos de estar todos contidos e unidos, ainda mais em ocorrência de emergência. Sem criar abstrações, muito menos divisões e imprecisões. Haja clemência! Existem, em todo o lado, pessoas menos cultas, menos abastadas, menos tenras de idade… Mas nenhuma delas, de lés-a-lés, é menos “Nação valente e imortal”. Prosperemos, juntos: “pela Pátria lutar”!

Já agora, que o assunto empoeirou, assim poderia ter passado nesse «Jornal das 8» (sem desmérito ao muito que se tem feito por todo o país): eis breves factos do enorme Esforço, Entrega e Exemplo do Porto e Norte diante do surto. E que devem orgulhar-nos a todos…

:: a liderança eficaz e sagaz do presidente da C.M. Porto, em ações permanentes de várias frentes;

:: o Movimento «Norte em Ação – rede de entreajuda para produção de material hospitalar», coordenado pela médica portuense Sara Moreira;

:: o projeto de caravanas de apoio aos médicos e bombeiros, no Norte, encetado por Hugo Basto e Pedro Castro;

:: a própria criação de gel desinfetante pelo Hospital St. António;

:: a construção da nova ala de cuidados intensivos do Hospital Pedro Hispano, pela ‘Nogueira Fernandes SA’;

:: a produção por entidades famalicenses: zaragatoas pela ‘Hidrofer’, a confeção de vários EPI pelo ‘CITEVE’ e o «Projeto Armadura», a partir da ‘Shop Charlotte’ e com múltiplas empresas voluntárias em rede;

:: as batas e materiais inerentes feitas pela ‘Nutidex’ + Gio Rodrigues, com 50 costureiras; etc..

«Já tinham servido um ‘Porto Vintage’. (…) Aqui nos encontramos… Por esta região e esta cidade [Porto], pela nossa determinação e nossa força… À saúde de todos os presentes (…) Bom ‘Porto’» (Lídia Jorge, não natural do Porto).