A greve de hoje dos trabalhadores da Efacec registou uma “adesão maciça” e levou à paragem total da produção, segundo fonte sindical, que interpreta a participação inédita de alguns setores da empresa como “um ato de grande responsabilidade”.
“Houve uma adesão maciça dos trabalhadores, nunca vi nada igual. Conseguimos abrir [o protesto] a trabalhadores que nunca participavam, como pessoal de escritório, administrativos, engenheiros e chefias”, avançou Miguel Moreira, do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte (Site-Norte), em declarações à agência Lusa no final da greve.
Assegurando que “a fábrica não trabalhou, parou completamente”, durante as duas horas da greve, o dirigente sindical considera que o nível de adesão registado representa “um ato de grande responsabilidade por parte dos trabalhadores”.
“Porque isto é uma luta política, não é uma luta por salários, e os trabalhadores perceberam que têm de se agarrar à Efacec com unhas e dentes”, sustenta.
A greve dos trabalhadores da Efacec decorreu entre as 14:00 e as 16:00 de hoje e teve como objetivo exigir ao Governo a compra de matérias-primas, contestar a reprivatização e reclamar a demissão da administração da empresa.
Em 28 de outubro, os trabalhadores decidiram, em plenário, avançar para a greve, após paragens forçadas de vários setores da empresa, que atua nos setores da energia, engenharia e mobilidade, mas que tem visto a capacidade de produção comprometida devido à falta de liquidez para adquirir matérias-primas e pagar a fornecedores.
Num comunicado divulgado na sequência da greve de hoje, a administração da Efacec afirma que a empresa “está na fase final do processo de reprivatização”, garantindo que continua “a responder aos pedidos de clientes, a prestar serviço e a desenvolver novos projetos”.
“A empresa tem sentido o impacto global em todos os setores e áreas, devido à disrupção nas cadeias de abastecimento, causada pela pandemia, mas a produção mantém um ritmo variável dependendo das encomendas que tem em curso”, sustenta.
A administração liderada por Ângelo Ramalho diz que “a confiança no futuro está assegurada, desde logo, pela carteira de clientes, dado que estão em curso novos projetos, resultado de novos contratos celebrados em 2021, para lá da carteira global que detém e que está a executar”.
“Apesar dos constrangimentos, a Efacec continua a merecer a confiança dos seus clientes, assegurando projetos no curto, médio e longo prazo, que beneficiam a vida de milhões de pessoas, nas mais diversas geografias”, refere.
Reiterando que “a empresa continua viável economicamente, comprometida e interessada no desenvolvimento da sua atividade”, a administração da Efacec assegura que “não está em risco o cumprimento das suas obrigações, nomeadamente com os seus colaboradores e todos os demais ‘stakeholders'”.
Durante as duas horas da greve de hoje, cerca de 700 trabalhadores, segundo o sindicato, estiveram concentrados na portaria da sede da Efacec, no polo da Arroteia, em São Mamede de Infesta, Matosinhos.
De acordo com Miguel Moreira, eventuais novas formas de luta serão decididas nos plenários a realizar na próxima semana, em data ainda a definir.
O Site-Norte tem vindo a reclamar a intervenção do Governo, enquanto “dono da Efacec”, para garantir que a empresa dispõe das matérias-primas necessárias para retomar a atividade com normalidade.
“O Estado, como dono da empresa, deve assumir o controlo da empresa com transparência e deve comprar matérias-primas para pôr a Efacec a trabalhar e a satisfazer as encomendas que tem em carteira”, defendeu recentemente Miguel Moreira, em declarações à agência Lusa.
De acordo com o dirigente sindical, a “falta de dinheiro para pagar aos fornecedores e para comprar matérias-primas é uma situação recorrente na Efacec, que se vem arrastando há muito tempo, mas nos últimos meses agravou-se”, levando à paragem de vários setores da empresa.
“Isto é algo que nós estranhamos bastante, porque não pretendemos que o Governo ponha lá dinheiro e que não queira saber para onde ele vai. Isto é uma empresa do Estado e o que nós defendemos é que a Efacec deve continuar na esfera do Estado e o Governo disponibilizar uma verba para comprar matérias-primas, mas ter o controlo dessa verba e fiscalizar para onde vai o dinheiro”, afirmou Miguel Moreira.
Salientando que sindicatos e trabalhadores estão “muito preocupados e apreensivos”, o dirigente do Site-Norte vincou que “a Efacec, assim, não vai lá” e admite: “Se calhar, a intenção do Governo — como já aconteceu com outras privatizações — é pôr a Efacec numa situação difícil, fragilizada, para depois vender isto por ‘tuta e meia'”.
Miguel Moreira questiona “onde é que está o dinheiro” do financiamento de 70 milhões de euros à empresa que o Estado assegurou junto da banca e pede respostas “ao ministro da Economia e ao primeiro-ministro”.
Entretanto, no sábado, o jornal Expresso avançou que a Efacec iria ter um novo financiamento garantido pelo Estado, entre os 30 e os 40 milhões de euros, com o aval do Banco de Fomento e destinado a garantir que a empresa tem capacidade para se manter operacional até à conclusão da reprivatização.
O Governo pretende que o processo de reprivatização dos 71,73% do capital social da Efacec atualmente nas mãos do Estado esteja concluído antes do final do ano, tendo a resolução do Conselho de Ministros que aprovou a terceira fase do processo de reprivatização, admitindo a participação dos dois grupos que apresentaram propostas vinculativas — DST SGPS e Sing — Investimentos Globais –, sido publicada em 08 de setembro em Diário da República.
Ao jornal Público, a Parpública adiantou que a terceira fase de negociações “iniciou-se no passado dia 28 de setembro, com diversos encontros com os investidores interessados na aquisição da referida participação social, devendo as propostas finais ser recebidas dentro de cerca de três semanas”.
A aprovação em Conselho de Ministros do decreto de lei para nacionalizar 71,73% do capital social da Efacec decorreu da saída do capital de Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, na sequência do envolvimento no caso ‘Luanda Leaks’, no qual o Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação revelou mais de 715 mil ficheiros que detalham alegados esquemas financeiros da empresária.
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