Fazendo uso da metáfora de Edward Lorenz, costuma-se ouvir que o mero bater de asas de uma borboleta na Europa pode gerar uma tempestade em Portugal. Se assim é, o que dizer quando as principais economias europeias estão em crise?
Ao que tudo indica, 2025 trará novos desafios para o Velho Continente, com obstáculos políticos, económicos e orçamentais, agravados pela crescente tensão geopolítica internacional, assim como pela ascensão de partidos populistas e/ou eurocéticos que arriscam comprometer o funcionamento das instituições democráticas europeias.
Comecemos por França que, nas últimas semanas, ficou a conhecer o seu novo primeiro-ministro, François Bayrou, nomeado na sequência da moção de censura que depôs o governo de Michel Barnier a 4 de dezembro. No entanto, o novo governante terá em mãos um cenário de ingovernabilidade, onde qualquer solução estará condicionada pela coligação de esquerda Nova Frente Popular e pelo partido de extrema-direita Ressemblement National e, portanto, condenada à incapacidade de responder às urgências do momento.
Tal contexto ganha maior gravidade quando, segundo as previsões da Comissão Europeia, França atingirá um défice orçamental de 6,2% do PIB, a sua crescente dívida pública ultrapassará os 112% do PIB e a economia terá um crescimento anémico, começando a atiçar a voracidade dos mercados.
Quanto à principal economia europeia, a Alemanha, após entrar em recessão em 2023, prepara-se para registar um decréscimo na atividade económica pelo segundo ano consecutivo. Um dos setores mais visados é precisamente o automóvel, ao qual Portugal está especialmente exposto, com uma representatividade que vai muito além da Autoeuropa.
Também na Alemanha, que terá eleições antecipadas em fevereiro do próximo ano, a estabilidade política vem se desvanecendo. De acordo com as sondagens mais recentes, o partido de extrema-direita alemão (AfD) poderá surgir como a segunda força, acentuando a fragmentação parlamentar.
Quais serão então as possíveis consequências destes ventos para uma pequena economia dentro da União Europeia como Portugal? Destaco dois riscos que particularmente me inquietam.
O primeiro prende-se com um eventual efeito contágio na gestão da divida pública. Num cenário em que as principais economias se deparam com problemas políticos, económicos e orçamentais, dificilmente os investidores preservarão a confiança nas dividas soberanas da Área Euro, elevando o custo do financiamento. Como se tal não bastasse, o Banco de Portugal prevê que Portugal regresse aos défices orçamentais já no próximo ano, arriscando acordar a quimera adormecida.
O segundo risco está relacionado com o impacto sobre as exportações nacionais, que em 2023 representavam perto de metade do PIB português, atendendo a que a Alemanha e a França, segundo e terceiro principais destinos, representam no seu conjunto 25% das exportações de bens nacionais. Os primeiros sinais começam já a ser visíveis: a procura do mercado francês pelos nossos produtos diminuiu 4,6% até outubro deste ano, e muitas empresas têm identificado reduções nas encomendas pelo mercado alemão.
Para completar a tempestade perfeita, 2025 trará o regresso de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos da América e um mais que provável surgimento de políticas protecionistas, mantendo a promessa eleitoral de aumentar as tarifas às importações dos principais parceiros comerciais. Importa, neste âmbito, destacar a crescente relevância que a economia norte-americana tem, não só para o mercado europeu, mas para Portugal em particular, uma vez que se trata do quarto principal destino das exportações de mercadorias nacionais.
Não procuro com esta reflexão profetizar uma crise económica ou orçamental para Portugal e muito menos retirar o entusiasmo do leitor para o ano vindouro, até porque temos provas dadas da nossa resiliência em contextos adversos, mas é indubitável que as nuvens se turvam no horizonte.