Os objetivos de desenvolvimento sustentável têm um papel importante na construção universal de um futuro melhor sem deixar ninguém para trás. Um compromisso de colaboração global com a sociedade para um habitat mais igualitário.
O objetivo 5 Igualdade de Género destaca-se por desafiar a comunidade a “acabar com todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas, em toda parte”. Premissa que, desde 1979, é reconhecida pela Assembleia Geral da ONU na Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW), um tratado basilar de Direitos Humanos das Mulheres. Contudo, passados 42 anos permanecem, mesmo nas gerações mais jovens, estereótipos e disparidades de género no respeito pelos princípios de equidade.
A pergunta permanece: Direitos das mulheres – existe igualdade de género na Europa? As disparidades entre os homens e as mulheres persistem, em especial no mercado de trabalho, com salários mais baixos e sub-representação nos cargos de decisão, mesmo havendo já um longo caminho de igualdade.
No caso da arquitetura e do urbanismo, em Portugal, a cultura prossegue “tradicionalmente e eminentemente masculina”, apesar de as mulheres representarem, hoje, mais de 45% dos associados na Ordem dos Arquitectos e estarem em maioria quando se contabilizam entradas e saídas das universidades de arquitetura.
Para enfrentar este cenário, é indispensável observar o que está a ser feito para refletir sobre o que vemos e definirmos caminhos alternativos. Como alerta a ativista Jane Jacobs, “o perigo da não-mudança é quando não revemos e não repensamos”.
A arquiteta Zaida Muxi, pioneira na investigação das questões de género aplicadas ao urbanismo e à arquitetura defende, no congresso mundial de arquitetos UIA2021RIO sob o lema “Todos os mundos, um só mundo, Arquitetura-Cidade 21”, que “o urbanismo é ferramenta para a igualdade”. Para tal, é preciso “abrir os olhos, abrir o cérebro perante as necessidades que até agora não foram visualizadas. São as necessidades que têm a ver com a vida cotidiana, com cuidados imprescindíveis para todas as pessoas”.
Em Portugal, o coletivo de ativistas Mulheres na Arquitectura tem tido um papel preponderante no combate à invisibilidade das mulheres na profissão com a discussão alargada de políticas de género integradas nas cidades. Neste sentido, é importante sublinhar uma das últimas iniciativas, o projeto “Mulheres em Construção!”.
No Bairro Santiago, em Aveiro, as arquitetas Isabella Rusconi e Patrícia Robalo, na defesa do direito à cidade e à habitação, propõem a capacitação e autonomia das mulheres para a realizar pequenas reparações nas casas. A iniciativa assenta em três pilares, a formação certificada na construção civil; a criação de um banco de materiais de construção; e formação em Igualdade de Género. O objetivo é a emancipação técnica, profissional e cidadã.
Porém é fundamental ir mais além e adotar políticas de sensibilização e legislativas que promovam a efetiva promoção de igualdade de género. Não se trata apenas de uma visão feminista da sociedade. Como refere a escritora Simone de Beauvoir, o problema é político; e continua a sê-lo.