Participei, recentemente, num debate radiofónico sobre as eleições em África que visou, no essencial, perspectivar o curso dessa prática na realidade africana. O nosso debate era, em si, um fracasso analítico porque reduzia toda a complexa analítica dentro de uma abordagem conceptual que subentende África como uma realidade uniforme. Este exercício traduz-se, efectivamente, num empobrecimento analítico de uma realidade social e política composta por 54 países.

Os processos políticos e sociais acabam sempre por ser distintos entre os países e sub-regiões africanas. No entanto, a abordagem sobre as eleições africanas é desenvolvida através do postulado de vagas ou fases que resulta na agregação de países. Com base nesse critério, podemos assinalar que existe um boom de eleições na realidade africana, desde a década de noventa até hoje, com diferentes tipologias de eleições.

Como eleições fundadoras, pós-guerra, contexto de pós-guerra e competitivas e não competitivas, que abarcam diferentes regimes políticos, com realce para os regimes democráticos e não democráticos.

A grande maka africana não é a ausência de eleições nem sequer os processos eleitorais, mas, sim, o efectivo impacto dessas eleições na vida dos africanos, que continuam a almejar por desenvolvimento e por um bem-estar social e económico que tarda em emergir. Porque as sucessivas eleições passaram a ser parte de um expediente rotineiro de legitimação das elites africanas aos olhos dos observadores internacionais, porém, estão objectivamente esvaziadas de conteúdo de transformação da vida prática dos africanos. 

Este facto tem motivado uma saída de vários africanos com destino à Europa, provocando, muitas vezes, uma catástrofe humanitária e milhares de mortes nos mares europeus. Por isso, hoje os mares europeus são cemitérios de vidas africanas e as fronteiras são prisões abertas.

Face ao fracasso das eleições, que não geram mudanças efectivas nas vidas dos eleitores e não elevam as vidas dos africanos, para que serve continuar a votar nas eleições africanas se a pobreza, a fome, a miséria e o subdesenvolvimento continuam a dominar a paisagem africana? Por isso, hoje a questão já não é a realização das eleições, mas, sim, a emergência de um regime que acabe com o sofrimento dos africanos, sendo democrático ou não. Porque a democracia com fome não serve aos sujeitos africanos.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.