Para quem gosta de política, as eleições americanas são um acontecimento que nos prende ao ecrã e aos órgãos de comunicação social. Sou daqueles que durante dias procurei junto da CNN e de outros órgãos de comunicação social a última atualização. Um gesto repetido até termos a certeza de uma nova esperança, com a eleição de Joe Biden e da vice-presidente Kamala Harris.

O novo Presidente dos EUA é um moderado e defensor de pontes. Eu defendo que foi este dado que deu a vitória a Biden. E são essas pontes que vai ter como principal desafio. Em relação à nova vice-presidente, para além de ser a primeira mulher no cargo, é uma lufada de ar fresco pelos princípios da tolerância e solidariedade que defende. Este resultado eleitoral também significa a derrota daqueles que não defendem os valores de uma sociedade mais justa e tolerante na Europa.

Os últimos quatros anos foram anos de populismo e do pior a que a política nos habitou. O ainda Presidente nem na hora da saída consegue estar bem, ao não efetuar o mais simples ato de dignidade que é felicitar o adversário, limitando-se a incendiar as ruas. Singularidades de um país. Mesmo assim, sinto que uma das nossas obrigações, enquanto espetadores nesta montra global, passa por não olharmos para os EUA com os nossos olhos.

O sistema eleitoral americano é muito diferente daquele a que estamos habituados na Europa e a realidade americana hoje é muito distinta daquela que apaixonou Tocqueville no século XIX. No entanto, apresenta uma importância extrema para a Europa e para o mundo. A eleição de um presidente americano é um ato eleitoral que em caso algum pode ser desprezado. Portugal tem uma relação de amizade com os EUA, onde residem, estudam e trabalham ativas comunidades portuguesas e luso-descendentes, tem uma relação de parceria transatlântica na NATO e tem, nos Açores, no coração do Atlântico, um ponto de contacto estratégico.

Portugal preside ao conselho da União Europeia no próximo semestre e será, seguramente, um protagonista empenhado no diálogo com os EUA em temas globais. Será expectável que também possam melhorar as já de si boas relações económicas com o nosso próprio país. Sublinhe-se que, segundo dados da AICEP, os projetos de investimento em Portugal, por parte dos EUA, rondaram os 991 milhões de euros entre 2014 e 2019, envolvendo a criação de cerca de 7 mil postos de trabalho.

A nível de balança comercial, os EUA são o nosso quinto maior cliente e o 11.º país fornecedor, sendo que em 2019 tínhamos mais de 3.600 empresas a operar neste difícil mercado, onde apresentamos uma balança comercial positiva.

Estes dados, especialmente numa conjuntura de pandemia, demonstram que estas eleições e o novo ciclo político americano também devem ser aproveitados pelas nossas empresas como um desafio e oportunidade.

Importa focar o que esta eleição significa para os valores da sustentabilidade. Espero que o Acordo de Paris possa voltar a contar com os EUA e o negacionismo das alterações climáticas seja apenas uma má recordação. Sublinho ainda a necessidade de voltar a uma estreita cooperação na Organização Mundial da Saúde. O atual momento do mundo assim o exige.