A dois dias das eleições legislativas a agência de notação financeira DBRS tem marcada uma avaliação da dívida soberana portuguesa. Depois de, em abril, ter mantido o ‘rating’ de Portugal em ‘BBB’, mas subido a perspetiva de ‘estável’ para ‘positiva’, os analistas mostram-se divididos sobre o próximo passo da agência canadiana.
“Numa nota pessoal, diria que faria muito mais sentido que a DBRS nada alterasse de momento para poder esperar pelos resultados das eleições e assim avaliar o ângulo político com mais precisão – que é sempre um tema crucial a ter em conta”, diz Filipe Garcia, presidente e economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros. “Por outro lado, a DBRS, seja qual for a decisão, acaba por ter influencia nas eleições ao divulgar uma decisão na véspera das mesmas. Seria de evitar”, considera.
No entanto, antecipa que não adiando a avaliação, “o mais provável é que a DBRS acabe por subir o rating em um nível, dado que já tem uma perspetiva positiva desde a última avaliação”.
Por outro lado, Filipe Silva, diretor de gestão de ativos do Banco Carregosa mostra-se mais céptico. “Penso que irão manter. Não me parece que faça muito sentido nesta fase estarem a subir o rating“, refere. Para o responsável do Banco Carregosa o abrandamento do crescimento económico mundial deve levar a uma postura cautelosa da agência canadiana.
“A conjuntura mundial não tem sido tão favorável quanto isso. Fala-se em algum abrandamento económico e se vier mesmo a acontecer pode nos vir a afetar. Se nos vier a afetar e por algum motivo viermos a ter alguma inversão nos prémios de risco na Europa, Portugal e toda a periferia é sempre o que fica mais afectados”, explica.
Filipe Garcia também admite que a DBRS “deverá mencionar os riscos de desaceleração da economia europeia, que poderão contagiar Portugal”, mas que, no entanto, “no balanço de todos os fatores deverá subir em um nível [o rating]”.
“A DBRS deverá justificar a subida com os resultados da gestão da dívida pública, nomeadamente diminuição significativa da taxa de juro média ponderada e alongamento do perfil da dívida, bem como com as perspetivas de uma politica monetária favorável, num contexto em que até a Grécia tem juros baixos e tendo em conta as previsões de contas públicas equilibradas”, antecipa. “O cenário político deverá ser visto como benigno, mesmo que não se espere uma maioria absoluta do PS, dado que é muito provável que seja possível encontrar soluções governativas”.
Na última avaliação, em abril, a agência de rating destacou a melhoria do défice desde 2014, alavancado em “fortes receitas fiscais” e “investimento público contido”. “O outlook positivo reflete a visão da DBRS que os riscos são positivos. O défice orçamental está a aproximar-se de um equilíbrio e a dívida face ao PIB está a diminuir a um ritmo sustentável”, justificou a agência canadiana.
“Os NPL (non-performing loans) estão a reduzir-se de uma forma substantiva. Embora o crescimento do PIB real seja moderado, espera-se que o desempenho económico se mantenha acima da média da Zona Euro. Em contrapartida, os critérios [de desempenho] financeiros do setor público e privado emitem ainda sinais de vulnerabilidade”, acrescentou.
Política do BCE tem ajudado a diminuir o custo médio da dívida
A rota ascendente de Portugal nas avaliações das principais agências de rating é avaliada pelos analistas como de sucesso. “Considero que os sucessivos upgrades que Portugal teve nos últimos anos se justificam quase na íntegra. Desde logo, o ponto de partida era um rating baixo e porque houve um trabalho interessante de gestão do stock da dívida e a preocupação em manter a imagem de um país cumpridor e fiscalmente disciplinado”, realça Filipe Garcia.
“Ainda assim, a sustentabilidade da dívida portuguesa é questionável, desde logo pelo rácio muito elevado da dívida/PIB. A economia portuguesa está vulnerável a choques externos, nomeadamente, a recessões ou a uma subida das taxas de juro. Tendo em conta a rigidez da despesa pública – e compromissos assumidos em termos de apoios sociais – e a já altíssima carga fiscal, não se sabe como se irá acomodar orçamentalmente um período de recessão que venha a acontecer”, acrescenta.
Filipe Silva, do Banco Carregosa, destaca que “temos tido o privilégio de estarmos numa altura que a acção dos bancos centrais e que irá continuar estar a permitir ter um valor da nossa dívida com taxas cada vez mais baixas. Isso faz com que o nosso custo médio esteja a baixar consideravelmente e se isso for bem aplicado poderemos vir a conseguir reduzir o nosso rácio de dívida sobre o PIB”.
“Os bancos centrais é que têm feito todo este esforço para que as taxas estejam baixas e se mantenham baixas. O que tem permitido não só a nós, mas também a outros países – como é o caso de Itália e Espanha -, que estão neste momento com taxas que se tudo tivesse a funcionar de uma forma normal não seria possível. Ao mesmo tempo isso tem permitido aos países fazer mais investimento, conseguir repor restrições que tinham tido na altura da Troika, no nível de salários e impostos e a economia globalmente tem melhorado. Por isso, sim, o balanço dos últimos quatro anos é positivo”, conclui.
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