A presença de pressões inflacionistas na economia tem sido um tema central. Apontam-se como justificações principais a subida do preço do petróleo, combustíveis e outras matérias-primas, bem como as dificuldades logísticas ligadas à escassez de componentes e outros produtos intermédios. A alta nos fretes e constrangimentos em contratar num mercado de trabalho inundado de subsídios são outros fatores, aos quais se junta o disparo no consumo por parte de muitas famílias que acumularam poupança e estiveram impedidas de comprar.

Mas há um tema, certamente importante, que tem sido pouco falado: a subida dos preços da eletricidade. Depois de um mês de maio com as cotações mais altas desde pelo menos 2019, junho iniciou-se com nova subida no mercado OMIE. Nas duas primeiras semanas do mês, a cotação média fixou-se nos 82€/MWh, 14€ acima da cotação média de maio. Os preços em spot estão a mais do dobro de há um ano e os preços para fixação subiram mais de 50% no período homólogo.  A subida das cotações continua a ser impulsionada por um aumento do consumo, aliado a uma quebra da produção através de fontes renováveis. Este contexto, juntamente com a manutenção dos preços do CO2 e do gás natural em alta, não permite uma descida.

E é aqui que reside um aspeto que poderá passar despercebido. Os preços das licenças de emissões de CO2 têm desempenhado um papel decisivo nesta dinâmica. Pretende-se acelerar a descarbonização da economia, mas talvez se esteja a ir depressa demais, obrigando a que toda a economia suporte o custo dessa transição – primeiro as empresas e depois, inexoravelmente, os consumidores. E, como já tem sido demonstrado, a inflação é um “imposto oculto” que atinge particularmente os mais pobres. Aparentemente, a descarbonização feita com base nos incentivos atuais acabará por acentuar a desigualdade.