O relatório “Alterações Climáticas, Riscos Extraordinários e Políticas Públicas”, apresentado no dia 17 de novembro pela Mapfre Economics na COP30, aponta para uma lacuna de proteção de seguros. O relatório diz que na União Europeia apenas um quarto das perdas económicas geradas por catástrofes naturais foram cobertas.
Em 2024, este tipo de catástrofes resultou em prejuízos financeiros que superaram os 300 mil milhões de dólares pela nona vez consecutiva, dos quais cerca de 145 mil milhões de dólares estavam segurados, segundo a Mapfre.
No caso específico da União Europeia (UE), entre 1981 e 2023, os desastres naturais causaram cerca de 900 mil milhões de euros em perdas económicas diretas, com mais de um quinto dessas perdas a ocorrer apenas nos últimos três anos, ainda segundo a Mapfre.
“Os efeitos das alterações climáticas estão a causar prejuízos em grande parte do mundo, o que se soma à significativa lacuna de proteção de seguros que certas regiões exibem. A Europa é o continente que mais rapidamente aquece no mundo e onde o número de catástrofes climáticas mais tem aumentado, atingindo um recorde em 2023”, defende a seguradora espanhola.
“Apesar da situação europeia, a Ásia continua a ser a região do mundo com a maior lacuna de proteção seguradora (82,8%), o que indica que apenas 17,2% das perdas totais decorrentes de riscos relacionados com desastres naturais estão cobertas por contratos de seguro. Segue-se a América Latina, que na última década registou uma lacuna média de 81,0%. Estes dados contrastam com a América do Norte, que possui a menor lacuna de proteção, com uma média de 43,2% de perdas não cobertas”, refere o estudo.
Segundo a Mapfre as elevadas lacunas de proteção contra catástrofes naturais devem-se, principalmente, a uma baixa penetração dos seguros, a uma maior concentração da população em áreas de alto risco e a uma maior frequência e severidade de eventos extremos por consequência das alterações climáticas.
Estas são algumas das conclusões do relatório “Alterações Climáticas, Riscos Extraordinários e Políticas Públicas”, apresentado no dia 17 de novembro pela Mapfre Economics na COP30.
De acordo com especialistas, “o aquecimento global desempenha um papel fundamental na intensificação e frequência dos eventos de catástrofes naturais, e em particular, nos chamados ‘riscos secundários’: fenómenos climáticos de menor intensidade e maior frequência, como incêndios florestais, secas, ondas de calor e tempestades, que causam impactos cada vez maiores”, lê-se no comunicado.
Ricardo González, diretor de Análise da Mapfre Economics, evidenciou que, no mundo, “as perdas seguradas decorrentes de eventos catastróficos demonstraram uma tendência ascendente contínua a longo prazo, situando-se numa faixa de crescimento anual de 5% a 7% desde 1992”.
O relatório conjunto do Banco Central Europeu (BCE) e da Autoridade Europeia dos Seguros e Pensões Complementares de Reforma (EIOPA) conclui que, historicamente, apenas um quarto das perdas económicas foram seguradas, e que essa proporção foi inferior a 5% em alguns Estados-Membros. A lacuna de proteção na UE atingiu os 80% em 2024.
“Reduzir a lacuna de proteção seguradora para os riscos catastróficos é um desafio de política pública”, diz a Mapfre que acrescenta que é preciso “uma ação coordenada das entidades seguradoras com todos os níveis de governação, uma vez que, sem as medidas e os mecanismos de proteção e compensação necessários, os riscos climáticos tornam-se não seguráveis ou inacessíveis”.
Neste sentido, o relatório destaca a relevância de desenvolver quadros de colaboração entre as administrações públicas e o setor segurador para a gestão e partilha de riscos de desastres como, por exemplo, através de entidades que existem em países como Espanha, como o Consorcio de Compensación de Seguros, que indemniza sinistros extraordinários.
Menciona também a importância de promover incentivos para a prevenção e redução de riscos por fenómenos climáticos adversos, como os sistemas de alerta precoce, que fornecem dados em tempo real para estimar a intensidade e a trajetória de tempestades, inundações, ondas de calor ou incêndios florestais; e de aumentar as iniciativas destinadas a ampliar a cobertura seguradora, como por exemplo, através de soluções paramétricas, que proporcionam uma resposta rápida e eficiente perante desastres climáticos ao efetuar pagamentos automáticos baseados em parâmetros mensuráveis e previamente definidos, como a velocidade do vento, a quantidade de chuva ou a intensidade de uma seca.
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