O anúncio percorreu a imprensa no passado dia 17 de Março: o Estado tinha 50 mil árvores para dar em oito dias. A iniciativa partia do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) sob o lema “Restauro Florestal: o caminho para a recuperação e o bem-estar”, e pretendia comemorar o Dia Internacional das Florestas, assinalado a 21 de Março.

A acção decorria com regras específicas – inscrição para recolha das árvores por contacto telefónico do local seleccionado ou por e-mail; identificar-se nos locais de recolha no horário estabelecido; plantar no prazo máximo de uma semana após o levantamento; remeter uma fotografia por email da plantação para o ICNF no prazo de 48 horas com a identificação da data e do local onde foi realizada essa plantação; partilhar a(s) foto(s) com a hashtag #ICNFsomosTODOSnos.

A distribuição seria feita entre os dias 19 e 26 de Março em todo o país, nos postos de atendimento seleccionados do ICNF. Qualquer cidadão tinha direito a levantar dez árvores e os representantes de entidades privadas sem fins lucrativos poderiam levantar até um máximo de 50 exemplares. Os proprietários rurais, com objetivo de plantação em pequenas parcelas de terreno (com área não superior a 5.000 m2), estavam autorizados a levantar até um máximo de 100 exemplares, desde que identificada a parcela a plantar.

Sendo proprietária de um terreno, inscrevi-me no dia 18. No dia 19 dirigi-me ao local de recolha situado na Trafaria. Posto deserto, nenhum funcionário presente, nenhuma árvore à vista e apenas um papel nos vidros a avisar que as pessoas inscritas teriam de aguardar pelo contacto do ICNF para a marcação do dia e hora. Uma informação contraditória ao pedido inicial. No mesmo dia, o primeiro dia de entrega, surge na imprensa, em vários órgãos da comunicação social, que, segundo o ICNF, num só dia já tinham sido atribuídas as 50 mil árvores.

Na verdade, foi em escassas horas, visto que no jornal “Expresso” era publicado um artigo às 14h57 a dar conta do sucesso da iniciativa, que apenas numa manhã teria respondido a milhares de e-mails confirmando a entrega, distribuído todas as árvores pelo país a milhares de pessoas em todos os postos das 9h às 13h (horário oficial divulgado), e que o ICNF até já teria feito um balanço da iniciativa, prestado declarações, o artigo escrito e publicado.

Não menos hercúleo foi o trabalho realizado pelo ICNF no dia anterior, dia 18 de Março, que até às 10h31 recepcionou os pedidos e fechou a atribuição de árvores. Essa foi a hora em que o meu e-mail foi enviado. Nunca foi respondido. Assim como a centenas de pessoas – basta consultar os comentários pejados de queixas e acusações de fraude na página no Facebook do instituto.

Quanto à hashtag #ICNFsomosTODOSnos, encontrei apenas cinco entradas nas redes sociais de plantação de árvores por particulares, duas de câmaras municipais a plantarem com a devida foto com o presidente e vereadores a rodear a plantação, e duas instituições particulares.

Poderemos estar de facto perante mais uma acto de propaganda em ano de eleições. Seria imperativo perceber quem recebeu estas árvores pagas com os nossos impostos e que deveriam ter sido plantadas em Novembro, mês que alberga o dia da Floresta Autóctone, segundo o próprio guia disponibilizado no site da ICNF. Plantadas no fim de Março estarão provavelmente condenadas ao insucesso. Mas também é justo que se for averiguado e comprovado que o ICNF é um exemplo de rapidez e eficiência estonteante isso mesmo seja amplamente reconhecido.

Deixo o repto para considerarem convocar o instituto para gerir a DGS, pois quem executa a planificação da atribuição de 50 mil arvores em 24h também vacina a população toda e ainda extermina de vez o vírus enquanto o diabo esfrega um olho.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.