O acesso aos fundos de Bruxelas é um inferno sem fim que paralisa a vida das empresas e a economia. O ministro-adjunto Castro e Almeida tem pela frente um imenso monstro burocrático – os corpos intermédios do Estado – que desconfiam até do ar que respiram. O ambiente é envenenado e o risco de o país desperdiçar fundos é bem real. Mas Castro e Almeida tem outra luta entre os braços: a crise na habitação.

Ontem, foi apresentado um programa à partida bem desenhado que se propõe reduzir a especulação que castiga os preços dos terrenos. As ideias parecem ajustadas, vai buscar ao INE referências a partir das quais se farão medianas que, pelo menos no papel, podem ser um travão à bolha que não pára de aumentar. Dito de outra maneira, não é uma solução soviética, não expropria nem força ninguém, não lança proibições medonhas e impraticáveis, talvez até ilegais, como algumas das lançadas pela anterior ministra. Em vez disso, propõe-se regular o mercado, sem o estrangular e viciar. O congelamento de rendas deu cabo de Lisboa e do Porto durante duas décadas – políticas públicas assim não servem as pessoas e o país.

Claro, o novo enquadramento legal que explicamos na edição de hoje terá de passar o teste do tempo e da realidade. É provável que tenha de ser ajustado, porque numa área onde há tanto capital a mexer-se nunca é fácil domar a fera. Se o Governo AD tiver essa paciência, e a oposição revelar a capacidade de olhar para o que está para além da primeira curva e contratempo, o mercado imobiliário pode começar a recuperar algum bom senso.