A revista “The Economist” calculou que as distrações digitais custem à economia do EUA 650 mil milhões de dólares por ano. A competição pela atenção humana cresce há muitos anos, não só pelos níveis de informação, como pela forma como entra na nossa vida. A quantidade de informação em que mergulhamos diariamente e o seu crescimento ao longo dos anos é inversamente proporcional à dimensão da reflexão que as pessoas fazem sobre isso e ao pouco que sabem sobre os seus processos mentais.
Em 1960 a quantidade de informação produzida mundialmente é estimada em alguns petabytes. Ou seja, uma muito pequena fracção em comparação com os dois zettabytes de 2010, 33 em 2018 ou 64 em 2020 (1 ZB é igual a 1.000.000 PB e 1 ZB é 1.000.000.000.000.000.000.000). Sabemos menos ainda sobre processos mentais do que sabemos sobre como funciona a respiração e os pulmões e, por isso, temos pouca noção sobre o impacto desta pressão sobre a nossa atenção, um bem que é tão escasso como limitado.
Herbert Simon, prémio APA – American Psychological Association por contribuições distintas para a psicologia em 1969, prémio Turing para as ciências da computação em 1975 e prémio Nobel da economia em 1978, alertava para a espiral de competição pela atenção das pessoas e que esta seria cada vez maior à medida que a disseminação de informação aumentasse e a atenção fosse cada vez menor.
Cada vez temos de recorrer mais a processos automáticos para tomarmos decisões. Cada vez que o fazemos em situações e temas que necessitam de mais ponderação estamos a aumentar a probabilidade de erro. Decidimos pelo aparentemente óbvio. Pelo mais fácil e que necessite de menos atenção de imediato. Decidimos pelo que os outros estão a decidir.
E, no meio desta pressão que a tecnologia e a digitalização, em conjunto com a exponencial maior produção de informação, nos coloca saltamos paradoxalmente para soluções tecnológicas simples, em aplicações móveis de pouca evidência científica, para resolver problemas complexos como são os relacionados com a nossa saúde mental.
Alguns dirão “que bom que assim é”. Pensarão outros que podemos dar respostas aos exércitos de pessoas mais insatisfeitas com o trabalho e com a sua vida em geral, que nos parecem rodear cada vez mais. Parece que assim saímos aliviados por estamos a fazer alguma coisa ou… parecer que estamos a fazer. E daí, ao mental health washing é um saltinho. Não é com aplicações móveis. Não é apenas com intervenções clínicas individuais.
Nas organizações, é com mudanças das práticas de gestão, planeadas, alicerçadas em estratégia e num persistente envolvimento das pessoas e transformação da cultura organizacional e das suas lideranças num processo muitas vezes lento… isso sim! E tempo… tempo para respirar e para processar. Se não, estamos a perder tempo. E tempo é mais que dinheiro.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.