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“Em crise os riscos de crédito aumentam e o seguro torna-se mais importante”

Nesta crise, há setores que se veem obrigados a reduzir a sua atividade, “mas há outros em que novas oportunidades de negócio se abrem”, afirma a ‘chairman’ da COSEC, Maria Celeste Hagatong.
10 Abril 2021, 16h00

Qual o balanço que faz de 2020 na atividade dos seguros de créditos?
O ano de 2020 foi um ano completamente atípico. Uma pandemia com a expressão geográfica envolvendo todo o mundo é um cenário que apenas tinha sido registada em filmes de ficção. A necessidade de medidas sanitárias tão rigorosas levou ao confinamento das populações; à redução da movimentação das pessoas e de bens entre países e continentes; ao fecho de muitas atividades económicas (como o turismo, a restauração, o comércio e os transportes, nomeadamente os aéreos); e à interrupção de cadeias logísticas. Foi uma desarticulação completa e rápida da atividade económica.

Em março e abril de 2020, o mundo perspetivava que no verão desse ano a situação sanitária começaria a melhorar e, portanto, se verificaria o início da retoma das economias. Mas não foi isso que aconteceu, e chegámos ao final de 2020 com uma grave crise económica, com decréscimos acentuados do PIB na generalidade dos países, sendo a China praticamente a única exceção, e, em consequência, o comércio mundial registou um apreciável decréscimo. Face a este panorama, de uma crise tão brusca, os Governos dos vários países e a União Europeia tiveram de tomar medidas transitórias de forma a manterem os agentes económicos, ainda que alguns em hibernação.

As companhias de seguros de créditos, ao verem o início desta “débacle”, logo em fevereiro de 2020, reduziram as suas exposições aos países, sectores e empresas mais vulneráveis. Mas esta redução de exposição das seguradoras de créditos iria criar uma disrupção no comércio mundial e também uma enorme pressão na liquidez das economias. E é assim que a União Europeia e os países desenvolvidos da OCDE tomaram medidas transitórias, logo em março, de forma a que os seguros de créditos pudessem beneficiar de apoios públicos para as exportações para estes países. Esta medida teve um horizonte até 31 de dezembro de 2020, que, no final do ano, foi prorrogado até 31 de junho de 2021. Em virtude de as perspetivas não serem ainda positivas, há dias, viu-se aprovada uma nova prorrogação, até ao final de 2021.

Mesmo assim, o nível da atividade dos seguros de créditos diminuiu, como reflexo da redução do comércio mundial. Também a evolução dos mercados financeiros não foi favorável para a atividade seguradora em geral.

O custo do risco de crédito para as seguradoras deste ramo, apesar da sua prudência, veio a ser fortemente aumentado, tendo presente os cenários macroeconómicos tão negativos.

Todavia, tendo em atenção o conjunto de estímulos financeiros que foram postos em marcha pelos vários Governos, nomeadamente europeus, a sinistralidade verificada em 2020 não foi de forma nenhuma próxima das expectativas das seguradoras. Mas, como o efeito da sinistralidade das apólices do segundo semestre do ano apenas se irá fazer sentir durante o ano de 2021, ainda é cedo para tirar uma conclusão definitiva a esse respeito.

 

E como foram os resultados da COSEC em 2020?
A COSEC continuou a registar resultados positivos em 2020, apesar de bastante inferiores aos registados em 2019, ano em que estes foram grandemente influenciados pelas mais-valias da venda de património imobiliário. Contudo, no final do ano, o rácio de solvência da COSEC situava-se em 254%, e a situação de liquidez da companhia era muito favorável. A evolução positiva destes valores ficou a dever-se também a não terem sido distribuídos os resultados registados em 2019 pelos acionistas da COSEC, conforme recomendação feita pelo regulador ASF.

 

Como reage a procura das empresas exportadoras por seguros de créditos em alturas de crise?
É evidente que, numa altura de crise, os riscos de crédito aumentam e, portanto, o seguro de créditos torna-se mais importante para que as empresas possam vender a prazo (em princípio, a 90 dias) com uma previsibilidade dos seus recebimentos e sem terem problemas adicionais na recuperação dos incumprimentos dos seus clientes. Nesta crise, como em outras anteriores, se há setores que se veem obrigados a reduzir a sua atividade, também há outros em que novas oportunidades de negócio se abrem. Para obterem o financiamento adicional relacionado com o acréscimo de fundo de maneio resultante do aumento de atividade junto dos bancos, o seguro de créditos é um instrumento por excelência. Em 2020, a COSEC, com o apoio dos seus parceiros (mediadores e bancos), aumentou o número dos seus segurados, a maioria dos quais não tinham, até aí, seguros de créditos.

 

Qual a importância dos apoios públicos ao seguro de créditos e a renovação para 2021?
Tendo presente as novas vagas da pandemia, que têm vindo a afetar os vários países, e as suas consequências para a atividade económica, por um lado, e, por outro, os atrasos que se perspetivam na vacinação, com enormes consequências na retoma económica, impõe-se que as medidas de apoio aos seguros de créditos se mantenham em 2021, tanto mais que as exportações são um dos motores para o crescimento económico.

O Ministério das Finanças já assinou com as companhias de seguros a renovação e reformulação da Linha lançada em junho do ano passado, para vigorar até ao final do primeiro semestre de 2021. Nesta reformulação da Linha, foram contemplados os seguintes aspetos: para além dos países da União Europeia e desenvolvidos da OCDE foram também abrangidos todos os outros mercados de exportação portuguesa. Encontra-se contemplado um aumento do grau de cobertura por seguro de créditos com garantia do Estado até 1,5 vezes o montante assumido pelas companhias de seguros de créditos comerciais, não podendo exceder, em conjunto, 90% das transações. Foram também abrangidas as transações realizadas por sucursais e filiais de empresas portuguesas sediadas na União Europeia, e na sua atividade de comercialização de produtos fabricados em Portugal.

 

Ainda fazem falta os seguros de créditos para o mercado interno?
Os seguros de créditos para o mercado interno representam cerca de 50% do mercado global dos seguros de crédito em Portugal. Por outro lado, é necessário ter em atenção que as empresas exportadoras, para venderem no estrangeiro, envolvem outras empresas portuguesas, nomeadamente pequenas e médias empresas, que, neste momento, não têm acesso a seguros de créditos com apoio público na ordem interna. Tendo presente a fragilidade das empresas portuguesas, faz também todo o sentido o lançamento deste produto, nomeadamente como medida de proteção a importações de empresas estrangeiras que possam beneficiar deste mesmo instrumento nos seus países e, portanto, apresentem uma maior agressividade comercial.

 

Como é que a COSEC encara o ano de 2021?
O ano de 2021 parecia, há uns meses, que seria o ano da retoma da atividade económica, após um horribilis 2020. No entanto, com as novas vagas da pandemia que assolaram a maioria dos países a partir do final de 2020, e os atrasos que se têm vindo a verificar na disponibilização das vacinas, em especial na Europa, o ano de 2021 continuará a ser um ano que se perspetiva muito difícil. Num estudo divulgado esta semana pela Euler Hermes, é estimado que cada cinco semanas de atraso na campanha de vacinação custarão, em apoios governamentais, na União Europeia, um total de 90 mil milhões de euros. Assim, os sinais de retoma encontram-se adiados para o 3º e 4º trimestre 2021, mas nunca se sabe! No entanto, construímos o orçamento da COSEC para 2021 com grande ambição, não obstante esse cenário macroeconómico cada vez mais pessimista. Vamos continuar a nossa estratégia de proximidade com os nossos parceiros, clientes e potenciais clientes, tendo em vista prosseguir a nossa política de transparência, garantia do reforço de confiança na COSEC. Iremos continuar a melhorar a nossa oferta de produtos, com o lançamento de novas soluções digitais, a primeira das quais ainda neste mês de fevereiro. A melhoria do serviço, incluindo do serviço pós-venda, e também as melhorias nas plataformas digitais de comunicação com os nossos clientes e parceiros são objetivos que continuarão a merecer um grande foco por parte da COSEC. Pretendemos, assim, que a COSEC continue a afirmar-se pela inovação e pela digitalização dos seus produtos e processos. E tudo isto terá de ser acompanhado com uma forte melhoria da rentabilidade face à queda de resultados verificada em 2020.

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