É premente, no presente, defender o valor político inestimável das independências africanas numa fase que serão festejados 50 anos desse acontecimento nos PALOP. Os “velhos do Restelo” certamente aproveitarão o ensejo para praguejar, em forma de crítica, contra o resultado deste evento.
Este comportamento terá uma tradução discursiva, e de forma encapotada, de crítica aos governos africanos, que visa no essencial questionar a legitimidade política das independências.
Se eu escrevo num jornal português, como é o Jornal Económico, na qualidade de sujeito pensante e livre, dispondo do mesmo sentido de vida enquanto pessoa humana, é graças às independências, em particular a angolana. Sem este acto emancipatória estaria, certamente, entregue à minha sorte de nascimento.
Como nasci no seio de uma família que se enquadraria no tipo de família indígena, cuja existência estava regulada pelo Código do Indigenato, dificilmente possuiria a condição de sujeito, mas, sim, de súbdito à mercê do jugo colonial
A minha defesa em favor deste acontecimento está intrinsecamente associada ao exercício que realizo aqui quinzenalmente. Caso contrário, não teria tal direito, que apenas pertencia a uma minoria branca e portuguesa. Em alguns casos também às elites mestiças e assimiladas. É, por isso, que não alimento e não subscrevo qualquer tipo de ataque às independências. Seria, pois, uma negação da minha condição de sujeito emancipado que falta, ainda, ser consagrado como cidadão de pleno direito.
No entanto, compreendo, perfeitamente, o sentido crítico e até pessimistas quanto aos resultados políticos deste evento, sobretudo em matéria de governação que poderia representar uma alteração das condições de vida dos sujeitos africanos no pós-independência. Mas, criticar o comportamento das elites africanas e os respectivos governos não deve significar questionar o valor político deste acontecimento.
É mesmo nosso dever enquanto sujeitos africanos, tecer a devida crítica ao modus operandi dos governos quando estes não têm sido capazes de materializar os projectos políticos apresentados aquando da proclamação das independências. Porém, que essa crítica não sirva como meio encapotado de colocar em causa a legitimidade deste evento. Porque não há futuro africano que não tenha começado a partir das independências, sendo mesmo a única data de consenso em muitos Estados africanos, como é o caso de Angola.
Viva as independências africanas.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.