O recente discurso de Andrea Enria, presidente do Conselho de Supervisão do Banco Central Europeu (BCE), foi o momento mais marcante das últimas semanas para os bancários europeus e para a nossa concepção de sociedade.

Na sua intervenção, Enria defendeu a concentração dos bancos à escala europeia, como opção preferencial de robustecer rendibilidades. Complementarmente, os bancos adquiridos devem ser transformados em meras sucursais comerciais.

Não é, em bom rigor, o primeiro interveniente na banca europeia a propor soluções desta natureza. Contudo, pelas funções institucionais que desempenha, o seu discurso assume outra relevância.

Na prática, indo por essa via, estamos a falar de uma opção que ditará, possivelmente de forma assimétrica, enormes perdas de emprego qualificado, de centros de acumulação de capital e de base fiscal. Inevitavelmente, este será o triste destino dos mercados e dos países sem pensamento estratégico, salientou Vítor Bento, com a sua habitual lucidez, em recente entrevista ao jornal “Público”.

Por tudo isso, os sindicatos e as estruturas representativas de quadros e trabalhadores no sector bancário, mas também noutras áreas profissionais, devem encetar movimentos de associação e federalização para com isso ganharem poder de influência, trocarem informação e adquirirem capacidade de projeção da sua voz junto dos centros de decisão europeus.

A recém-criada Federação Ibérica dos Sindicatos de Quadros da Banca e das Instituições Financeiras (FISBANCA), unindo sindicatos de Portugal e de Espanha, é um passo nesse desiderato estratégico de reforço da capacidade dos sindicatos no sentido de exercerem os seus poderes enquanto parceiros sociais.

O sector bancário está em grande disrupção, o que potencia a obsolescência de determinadas funções. Nessa medida, tudo tem de ser feito para evitar a obsolescência de muitos trabalhadores. E serão os sindicatos, que não devem obediência a nada, para além dos interesses de seus associados, sem submissão a partidos ou organizações mais ou menos discretas, aqueles que estarão na linha da frente deste combate.

Pelos desafios e mudanças estruturais que o sector defronta e pelas especificidades legislativas, fiscais e regulatórias portuguesas, é absolutamente vital que empregadores e sindicatos tenham capacidade de trabalhar em conjunto para repelirem os aspectos mais nefastos deste processo no contexto português.

Repito, trabalhar em conjunto. Naturalmente, isso implica que os sindicatos participem, ab initio, nos planos prospectivos que os empregadores encetam. E que um pacto para o emprego e a requalificação seja assumido como contrapartida deste trabalho conjunto a fazer, absolutamente vital para o restabelecimento dos necessários equilíbrios.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.