Os leitores que acompanham esta coluna podem, semana após semana, juntar-se a nós na discussão de um modelo de sociedade onde o equilíbrio é a nota dominante. Um espaço de alguém que não acredita que abordagens radicais sejam susceptíveis de aumentar o valor e o bem-estar da comunidade. Alguém que acredita em abordagens incrementais e testadas previamente. Um observador para quem o estudo da história recente deixou fundadas dúvidas sobre a validade e o interesse de engenharias sociais. Alguém que se lembra bem que as grandes tragédias se ficaram a dever a homens ‘iluminados’ a quem ninguém, ou quase ninguém, se opôs em tempo oportuno.

Os portugueses sabem como uma combinação explosiva de banqueiros imprudentes (os tribunais julgarão se também criminosos), reguladores impreparados e uma sociedade embalada pelo crédito, fomentou o caldo onde floresceu uma série de problemas graves nos sectores bancário e financeiro. E sabem também que Portugal foi a cobaia onde os reguladores europeus impuseram um modelo de resolução bancária que não mais foi aplicado em lado algum. Fomos uma espécie de atol na Polinésia onde os bancários, os bancos e os contribuintes portugueses foram alvo da bomba de destruição massiva do BCE e o Single Resolution Board.

Uma década depois, bancos houve que faliram, outros que foram desmembrados, ocorreram mudanças estruturais nos centros de domínio accionista, restrições fortíssimas de crédito, em suma, eis todo um novo panorama. Com tudo isto sofreram os trabalhadores bancários e os trabalhadores das empresas que se viram sem acesso ao crédito, muitos deles ficando desempregados no decorrer deste processo. Tudo perderam os accionistas, sem acesso a informação privilegiada, que não puderam antecipar a tempestade que se avizinhava.

Esta profunda reconfiguração do sector bancário, com a retracção de crédito que se seguiu e a imensa destruição de emprego, foram o traço mais saliente dos anos de intervenção da troika (FMI, BCE e Comissão Europeia).

À luz de tudo isto, não deixa de ser preocupante que alguns órgãos de comunicação social e comentadores, sem experiência de gestão bancária ou qualquer outra relevante neste contexto, opinem de forma irresponsável sobre o futuro do Novo Banco. Uma atitude tanto mais paradoxal quanto o banco está a cumprir com o plano que acordou com Bruxelas, e tem vindo a cumprir com eficiência e eficácia com a sua missão de captar poupança e financiar as famílias e as empresas portuguesas.

Uns querendo que se use, quanto antes, com eventual desconto, a totalidade dos fundos previstos no mecanismo de capital contingente para permitir a sua venda; outros, sem qualquer autoridade, perorando sobre uma eventual partição do Novo Banco entre os seus concorrentes.

Naturalmente, percebemos que os perdedores do negócio da venda do Novo Banco estejam, novamente, a querer virar o jogo a seu favor. E percebemos também que uns tantos comentadores não sabem do que estão a falar. Outros, porventura, serão porta-vozes de inconfessáveis interesses. Uma coisa é certa: temos a certeza que tentar desmembrar um banco viável é um crime de lesa-pátria e um ataque aos trabalhadores bancários e aos contribuintes.

Portugal e os portugueses precisam de mais crédito e mais concorrência no sector bancário e não do contrário. Elementar caro Watson! A quem aproveita esta conversa requentada de desmembrar e dividir entre os concorrentes?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.