Em lume brando

A invasão da Ucrânia pela Rússia obriga-nos a refletir quase diariamente sobre geopolítica e como o conflito pode ser o ponto de partida para algo ainda mais grave. Sem querer menosprezar o que se passa no leste europeu, a maior preocupação já reside no que poderá ser um confronto aberto entre os EUA e China, envolvendo naturalmente os aliados dos Estados Unidos e também a Rússia.

A este respeito, vale a pena olhar para a avaliação anual de ameaças que é anualmente elaborada pela Inteligência dos EUA. O relatório foi divulgado na quarta-feira e, embora também fala superficialmente da Covid-19 e das alterações climáticas, é um documento quase totalmente focado nas potenciais ameaças que a China e Rússia constituem.

A Inteligência dos EUA considera que as potências atuais, as emergentes e entidades não estatais irão competir pelo domínio e influenciar a ordem mundial das próximas décadas, com os próximos anos a serem críticos porque definirão o resultado da guerra da Ucrânia. O relatório afirma que Moscovo continuará a tentar (ciber) influenciar as decisões de outros países, como as próximas eleições norte-americanas, e antecipa que Putin pode estar tentado a prolongar a guerra para melhor defender os seus interesses, com riscos de escalada caso a sua popularidade interna caia ainda mais.

Prevê-se que a China irá desenvolver cooperação militar, tecnológica e diplomática com a Rússia e que acelerará o desenvolvimento das suas capacidades militares para confrontar os EUA em conflitos de larga escala, sendo já capaz de ciberataques às infraestruturas ocidentais. No curto prazo, deverá continuar a intimidar os seus vizinhos através de ações no Mar da China.

Ontem, uma revisão de artigos especializados feita pela Reuters concluía que Pequim pretende desenvolver armas contra os satélites Starlink e de defesa conta os mísseis Javelin, tendo em mente uma reação dos EUA a uma operação em Taiwan, eventualmente em 2027.

Mesmo tentando ser otimista, há muito sinais de que não estamos numa fase desanuviamento, pelo contrário.